quarta-feira, março 30, 2005

Telegrama Cifrado

Este telegrama, e as cartas que se seguem relatam a escolha do novo Governador-Civil de Viana do Castelo, que iria substituir Raimundo Meira, impossibilitado de continuar no cargo devido a uma lei que impedia os militares no activo de ocupar cargos públicos. O problema na escolha do seu sucessor não era escolher a pessoa mais competente para o cargo, mas sim quem melhor defenderia os interesses do Partido Democrático.
Este telegrama cifrado foi enviado a Alfredo Pinto.

10885 20837 33065 34492 sentido seu 34442 porque sendo 27862 33355 10213 17226 34005 16817 25351 17616 o que me 20837 16828. Junto tenho 28182 10515 23795 maior 33504 mas só 28485 Que 38165 21749 34348 33343 11978 é indispensável. Julgo inútil 38989 11938 visto estar 28638 18906 antes 37135 21803


O seu texto integral é:

Confidencial. Não posso telegrafar. Sentido seu telegrama, porque sendo militar só passando a adido podia continuar a exercer o cargo o que me não convém. Junto tenho o Dr. Bernardino Machado maior veneração mas só gosto servir situações retintamente partidárias, Que quem me vier substituir seja democrático. Julgo inútil pedir demissão visto estar lavrado decreto antes queda ministério.

sábado, março 26, 2005

Republicano desiludido - IV (Fim)

Meu caro Simas

Encontrei hoje no meu correio a carta de Lisboa de Lima(1), que lhe interessa conhecer e que me devolverá depois.
A promessa de justiça está aí bem expressa. Tenho ainda suficiente stock de ingenuidades para crer que, apesar da camaradagem, nem tudo e nem todos, dentro desta república seguem as escolas da degenerescência e bandalheira dos estadistas da laia de Afonso e Bernardino.
Se me engano mais uma vez o mal não será só meu, para adquirir mais perfeito conhecimento dos nossos homens públicos deste infeliz país, que estará destinado a alfobre de mariolas. E digo do país: pois que a república, essa, é bem ainda que me preza, o logradouro de vários Santos de grande e pequena categoria.
Est voilá

Cumprimentos às senhoras
Um abraço do
Adriano


(1) Alfredo Augusto Lisboa de Lima - Ministro das colónias no governo de Bernardino Machado

quinta-feira, março 24, 2005

Republicano desiludido - III

Meu caro Simas

Agradeço-lhe a sua carta e o seu conselho amigo. E creia-me que ele exprime tão bem a sua amizade, que me tocou profundamente.
Mas meu caro Simas, poderei eu abandonar, sobre um facto como o da agressão, o parlamento, a vida política? Ficar-me-ia bem?
Eu vejo-a a frio e vejo-a também sob o aspecto político.
E a política vai transformar-se.
Alguns factos que eu conheço e outros que adivinho, convenceram-me que acontecimentos importantes se preparam nesta vetusta república. Sendo assim, convém que um certo número de indivíduos limpos e de valor estejam em condições de poder apoiar quem tente outra solução patriótica e honesta, dentro da república.
Muito temos de conversar, e depois você me dirá se devo ou não abandonar de vez a política. Farto dela estou eu; creia-me, mas tenho hoje responsabilidades que convém não olvidar. Nós três, com alguns amigos de inteira confiança discutiremos isso. Reportar-lhes-ei factos que conheço e que me deixam perplexo ainda. Ouvi-los-ei no tempo que tenho de descansar.
O primeiro movimento que se sente neste meio em que me sinto enredado é realmente fugir.
Mas se fugirmos … é o triunfo da canalha vil que está emporcalhando a república.
Enfim, até breve. Sigo esta semana.
Tenho sido acusado de atitudes agressivas, à minha chegada.
Veremos, e talvez isso justifique um acto meu.

Até breve, pois vá-se preparando para uma cavaqueira larga.

terça-feira, março 22, 2005

Republicano Desiludido - II

A carta que se publica, deve ter sido escrita no dia 5 de Fevereiro de 1914, revela bem como estavam extremadas as posições entre os republicanos. Relembro que Adriano Pimenta era, ainda 6 meses atrás, membro da direcção do Partido Democrático.

Meu caro Simas

Levanto-me hoje pela primeira vez e ainda incapaz de andar. Conto todavia, estar aí em Lisboa no meio da próxima semana.
Você compreende a minha angústia, nesta situação de inactividade forçada, num momento em que o meu temperamento e o meu dever me chamavam para o centro dos acontecimentos. E deve ter adivinhado também a revolta que eu sinto contras a atitude de grosseira violência desse feirão malcriado, habituado a conduzir, pela ponta do chicote, o manhoso gado que lhe tira o pesado carro de triunfador brigão. E não vejo uma atitude decidida das oposições, em face da omnipotência do ditador.
Por algumas pessoas que aqui me tem vindo visitar, sei que a oposição é cada vez mais hostil ao Afonso. O silêncio, a aparência mesmo de sossego é a prova do repúdio do Afonso Costa, que toda a gente considera capaz de tudo. Mal vai a republica se inoportunos fregueses dão a impressão angustiosa de que dentro das actuais instituições não há ninguém com coragem de se opor ao regímen opressivo do actual governo. A descrença é certa e a monção favorável a um golpe de mão, que terá a justificá-lo a absoluta impossibilidade de continuar um país, num truculento arbítrio de um homem sem escrúpulos. Você sabe de quanto o Afonso é capaz. Vaidoso, sem nível e julgando-se cheio de força, pela fraqueza dos outros.
Por causa dele a republica está cada vez mais isolada. Os monárquicos que ao princípio a aceitavam, detestam-na hoje; e muitos republicanos, os bons, os sinceros, esses não sentem já nenhuma fé na república e talvez vissem com indiferença uma restauração. É isto que eu lhe digo, se o senado não mantém a mesma atitude activa e vigorosa … então está tudo perdido. Venho para casa.
Vi hoje, no Janeiro que o Afonso apela para o presidente Arriaga.
Compreendo o golpe. O pobre do homem que é um joguete nas mãos do Afonso, é capaz de insistir, afeiçoando as oposições aos interesses dessa câmara. Faz mal. Eu se estiver no Senado, quando souber que tal coisa se tinha conseguido, não me retiraria sem mostrar quanto foi impolítica e antes de me retirar, enojado, procuraria ao menos desculpar-me, exprimindo a minha indignação pelo facto de o Afonso não ter escrúpulos de comprometer a figura do presidente.
Se isto sucede o que fica desta republica? O Afonso? Sem parlamento, sem poder judicial, sem o prestígio da presidência é o poder pessoal de um brutamontes, sem dignidade e sem vergonha, com o pobre talento de um advogado esperto.
Que tristeza eu sinto.

Adeus Simas, até breve

Seu amigo

Adriano

domingo, março 20, 2005

Republicano desiludido - I

As seguintes 4 cartas não datadas foram escritas por Adriano Pimenta a Simas Machado. Da sua análise penso que elas foram escritas entre o final de 1913 e meados de 1914 e serão apresentadas na sua ordem cronológica provável.

Meu caro Simas.

Posto que melhorando, ainda me encontro na cama, impossibilitado de deslocar-me. Agradeço-lhe a sua carta e pode imaginar a arrelia que dia-a-dia me vai irritando mais vai ainda poder dar-me umas descomposturas. Mas eu aqui tenho tido dias óptimos, ensejos da mulher e da sogra.
Não há dúvida que o Afonso, politicamente é um imbecil. Mesmo quando, na melhor das hipóteses, ele pretende abandonar o poder com algum prestígio, mas não era criando uma irredutibilidade com o congresso. No fim de contas que ficou? Pediu apenas que não se vai defender de acusações graves que lhe foram formuladas e que lhe podem cobri a fuga, desatou aos vivas à constituição. É tudo comum que as oposições tardam em precaver-se contra a solução Bernardino. Essa seria a pior de todas as soluções. Era a tal partida da oposição, que o Afonso iria governar para sempre, e ás oposições de aqueles, mijavam-se em cima.
Peço-lhe o favor de dizer ao Pedro Martins que eu lamento a minha situação e que ele e as oposições contem comigo porque não tenho, até agora, um momento de desânimo. É necessário que elas se mantenham na atitude necessária para dar satisfação às necessidades do país. Conto consigo para mostrar aos meus amigos que não sinto desfalecimento.
O Tesoureiro do Congresso oficiou-me e preveniu-me que eu mandasse receber o subsídio. Telegrafei-lhe hoje e pedi-lhe que o entregasse a você.
Peço-lhe pois o favor de, com a declaração junta, me vá receber o subsídio, tomando conta dele até à minha chegada.

Abraços meus e cumprimentos das senhoras

Adriano

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Adriano Pimenta (1862-1938)

Adriano Augusto Pimenta nasceu a 12 de Outubro de 1862 na Vila da Feira. Estudou no Porto, em cuja Escola Médico-cirúrgica se formou em 1890. Médico Municipal em Valongo durante algum tempo e instalou-se depois no Porto com consultório. Aderiu ao republicanismo desde os tempos académicos e fez parte da primeira comissão municipal republicana do Porto, então chefiada por Duarte Leite. Participou em diversos comités republicanos no norte de Portugal. Após o 5 de Outubro foi nomeado governador civil de Viana do Castelo (1911), cargo que ocupou por pouco tempo, pois foi eleito deputado à constituinte pelo círculo de Amarante e, depois transitou para o Senado. Foi presidente da Câmara Municipal do Porto onde tomou a iniciativa da construção da Avenida da Ponte D. Luís I.
Por incompatibilidade com os dirigentes do PRP, afastou-se da vida política e dedicou-se à medicina.
Foi sócio do jornal "O Primeiro de Janeiro", tendo sido seu director entre 1923 e 1926. Em 1931 fez parte da mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Pertenceu à maçonaria desde 1890, iniciado na loja Honra e Dever, onde adoptou o nome de Büchner.
Ministros e Parlamentares da 1ª Republica - Guinote et al - Lisboa - 1991 - Assembleia da República
Grande amigo de Simas Machado e Alfredo de Magalhães, é um dos correspondentes do General com maior número de missivas escritas, cerca de 30.

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Simas Machado, então Coronel, dirige-se aos recrutas que no Quartel de Infantaria 18 prestam juramento de Bandeira.

Infantaria 18 ocupava em 1913, o edifício que é hoje o Quartel General, na Praça da República no Porto

quinta-feira, março 17, 2005

A Queda de Afonso Costa - II

A demissão de Afonso Costa não tinha sido o “atirar da toalha ao chão”, em 24 de Janeiro joga duas cartadas, convoca para 26 o congresso da república (Reunião conjunta das duas câmaras) onde dispunha da maioria necessária para aprovar uma moção de confiança e uma manifestação popular para o mesmo dia à noite. Mas ambas as cartadas saíram furadas. No Congresso as oposições abandonam a sala deixando os democráticos sozinhos. Nessa mesma noite a manifestação começou com as sedes iluminadas, foguetes, bandas de música e “balões venezianos”, mas ao entrar no Rossio foi atacada à bengalada, a tiro e à bomba e rapidamente dispersada pela “formiga preta”. O próprio jornal “O Mundo” foi cercado e apedrejado, sendo salvo de ser incendiado pela GNR.
A 4 de Fevereiro, Afonso Costa joga a última cartada, exige ao presidente que o novo governo e seu programa seja nomeado e aprovado pelo congresso dos deputados, onde dispunha de confortável maioria. Em suma tentou pôr o Presidente entre a espada e a parede.
Nessa mesma noite, Machado dos Santos, convoca uma manifestação de apoio ao presidente Arriaga, exigir a demissão de Afonso Costa, amnistia para todos os presos políticos e a reabertura das casas sindicais. Brito Camacho e António José de Almeida recusam-se a participar e a manifestação teve um início muito tímido no Camões. Mas ao chegar à Avenida 24 de Julho, juntaram-se-lhe milhares de operários com tochas acesas e no Palácio de Belém um Arriaga eufórico recebe uma delegação dos manifestantes.
Perante o êxito da manifestação, a Afonso Costa apenas restavam duas opções. Ou governava em total ditadura, ou submetia-se e aceitava um compromisso. A perda da Rua fez com que escolhesse a segunda opção.O “Messias” seria aquele que Guerra Junqueiro definiu como “Homem de Borracha” – “Se lhe passasse um cilindro das estradas em cima, ele levantava-se todo lépido a tirar o chapéuBernardino Machado, aquele que tudo prometia e nada cumpria.

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terça-feira, março 15, 2005

A Queda de Afonso Costa - I

Com os resultados das eleições de Dezembro, pensava-se que Afonso Costa ficaria instalado durante muito tempo no poder. No entanto, a grande vitória seria o início do fim do seu primeiro governo.
Com as eleições, o partido democrático ficou com a maioria absoluta no congresso dos deputados, tal facto permitia a Afonso Costa prescindir do apoio dos deputados Unionistas, afectos a Brito Camacho, o que fez com que estes achassem que as eleições haviam sido manipuladas. A quebra desta “amizade” fez com que Afonso Costa perdesse o apoio do Senado, câmara onde Camacho dispunha da maioria.
Por outro lado, o partido democrático não era uma força unida atrás do seu líder. Na realidade o Partido era composto de muitos grupos antagónicos que se mantinham através de uma delicada coligação, cujo único garante era Afonso Costa. Coexistiam vários grupos e tendências de onde se destacavam António Maria da Silva, líder da Carbonária, Álvaro de Castro e os “Jovens Turcos”, que queriam manter a todo o custo a aliança com Brito Camacho, França Borges, director do Jornal “O Mundo” que dominava o “bas-fond” Lisboeta.

Conhecendo as divisões internas do Partido Democrática, as oposições atacam em força o governo no Senado. Os sindicalistas, inimigos figadais de Afonso Costa, convocam para 14 de Janeiro uma greve dos caminhos-de-ferro, que isolou Lisboa do resto do País.
A 21 de Janeiro, Unionistas e Evolucionistas aprovam no Senado uma moção de desconfiança ao governo. Afonso Costa apresenta a demissão, entregando assim a decisão do futuro do governo ao Presidente Manuel Arriaga. Este escreve uma carta-programa aos três líderes da república na qual propunha um governo extra-parlamentar e, um programa de “acalmação”. Brito Camacho aplaudiu, pois o seu domínio do Senado permitia-lhe dominar o governo e assim organizar as eleições à sua maneira. António José de Almeida, não querendo beneficiar Camacho, rejeitou a proposta de Arriaga e propôs a constituição de um governo evolucionista. Afonso Costa não fez comentários, disse apenas que a Carta tinha matéria Anti-constitucional.

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domingo, março 13, 2005

Moda Balnear - 1913

Era asim a moda de praia do ano de 1913.


Fotografia tirada na praia de Matosinhos

Queirós Vaz Guedes (1871 – 1926)

João Teixeira de Queiróz Vaz-Guedes, nasceu em Coimbra, a 24 de Junho de 1871, filho de José Teixeira de Quei­rós de Morais Sarmento de Almeida Vasconcelos e de Maria Júlia Pimenta da Costa Barreto. Casou com Maria Amália Sousa Coutinho.
Em 1889, ingressou na Faculdade de Direito de Coimbra, pela qual alcançou o bacharelato. Espe­cialista em Direito Financeiro, dedicou a vida profissional à advocacia. Desem­penhou ainda as funções de secretário-geral do distrito de Santarém. Republi­cano, integrou as fileiras do Partido Republicano Português (Democrático), ocupando, depois da República, o cargo de governador civil de Viseu em 1913-1914, ao mesmo tempo que iniciava vida parlamentar como deputado por Pinhel (1913-1915).
Deputado por Ponte de Lima em 1919, candidatou-se, sem sucesso, pelo mesmo círculo eleitoral, no ano de 1921, vindo a retomar o assen­to parlamentar por Santarém (1922-1925). Fez parte do elenco governativo em 1923, como responsável pelas pastas do Comércio (de 9 de Janeiro a 15 de Novembro) e das Finanças (entre 24 de Outubro e 15 de Novembro).
Pertenceu à Maçonaria, tendo sido iniciado, em 1909, na loja Liberdade III, com o nome simbólico de Gambetta.
Faleceu em Lisboa, a 23 de Março de 1926.

sexta-feira, março 11, 2005

A Igreja perseguida

As perseguições ao clero continuavam, Queiroz Vaz-Guedes (Referido na carta de Afonso Costa) dá conta dos seus actos a Raimundo Meira em 23 de Janeiro.

Meu excelentíssimo amigo

Recebi a sua carta com os documentos inclusos e apreciei como mereciam o diálogo em verso do Satanáz com o Gaspar Gomes, que não é aliás meu caseiro, e o mais. A questão do arrendamento do passal cifra-se no seguinte: como Vexa sabe as freguesias por aí são muito pequenas e o povo vê-se e deseja-se para pagar aos padres; fiz portanto propaganda na minha freguesia no sentido de convencer os habitantes a que encarregassem um só padre de paroquiar as duas freguesias de Pedreiro, que é a minha e a vizinha de S. Tiago de Cendufe. Parece que se convenceram e conseguiram convencer os padres, um dos quais, o de S. Tiago, está expulso da residência; parece que este concorda em se ir embora da freguesia com o que a República nada perderá, passando o encomendado de Pedreiro a ir residir em São Tiago, o que também lhe dá jeito por causa de uma quinta que ali comprou, mas para ele ir é preciso que lhe permitam arrendar a residência e passal de S. Tiago pagando, é claro maior renda que a actual e evitando-se que esteja a deteriorar-se abandonada a residência de S. Tiago. Creio que seria muito bom conseguir o que deixo dito: lucrava o estado na renda, o povo das duas freguesias na diminuição dos encargos e a instrução, pois ficávamos com a residência de Pedreiro, que é boa para a aplicar e suprir a falta essencial de casa para as escolas da freguesia. Peço portanto a Vexa que empenhe para o conseguir todo o seu bom esforço.
Quanto ao administrador, se o bacharel a que Vexa se refere é como julgo o filho do Dr. Souza, é o pior que pode ser; além de parvo e talvez mesmo por o ser, é criatura completamente do José Guimarães, tendo pedido nas últimas eleições o voto a um meu caseiro afirmando-se Camachista. Isto para além das prendas do pai e dos tios nos Arcos e em Melgaço.
Queria-se pessoa com tino, critério e um pouco de autoridade, aliás continuaremos na mesma ou pior.

Com muita estima, de Vexa. Correligionário e amigo muito dedicado

Lisboa 23/01/1914

Queiroz Vaz-Guedes

quarta-feira, março 09, 2005

Assuntos pendentes

Raimundo Meira escreve ainda ao Ministro da Instrução (Sousa Júnior) tentando encerrar vários assuntos pendentes neste ministério, antes de abandonar o cargo de Governador-Civil.

Confirmo o meu telegrama de hoje.
Mesmo sem as vantagens que tinha até 31 de Dezembro, eu continuaria neste lugar se isso fosse útil ao nosso partido porque foi somente com esse fim que o aceitei em Junho passado. Ninguém pode exercer bem um cargo destes sem que os governadores estejam convencidos que se tem todo o apoio e força do governo. …… Esse cargo não se dava comigo. E não se dava comigo pelas seguintes razões: O Sr. Ministro da Instrução prometeu-me, na presença do Presidente do Concelho e do Sr. Artur Costa nomear um professor dos Arcos, inspector. Esse professor, está nas perfeitamente nas condições porque é distintíssimo. Empenhava-se por ele um influente político do concelho dos Arcos e o Sr. Ministro da Instrução disse-me que lhe podia dizer que a nomeação se faria mas não para o círculo dos Arcos como o professor desejava.
Esses homens trabalharam dedicadamente nas eleições, mas a nomeação não se fez até hoje apesar de já ter insistido por ela.
O facto de se não ter nomeado o Dr. José Guimarães para qualquer parte tem causado também um efeito engraçadíssimo entre os influentes amigos dele.
Essa nomeação porém, estou certo há de se fazer porque Vexa assim o prometeu.
Outras pequeníssimas coisas tenho ainda pelo ministério da instrução, mas vamos ao final que é mais forte.
Tinha pedido ao ministro da instrução que modificasse um pouco o parecer do concelho superior de instrução pública acerca do castigo a impor ao director da escola normal desta cidade, isto é, pedir-lhe que não o transferisse. E pedi-lhe isto porque conhecia bem a origem da campanha contra o referido professor e portanto a revoltantíssima injustiça da punição, pois da própria sindicância se vê que ele é talvez o menos culpado de todo o pessoal daquela escola, mas muito principalmente porque fazendo-se o que eu pedia praticava-se um acto de justiça e obtinham-se óptimos resultados políticos.
O Sr. Ministro, pelo que li nos jornais, se reparou no meu pedido foi para agravar o castigo.
Não houve uma pessoa honesta em Viana que não se revoltasse ao ler nos jornais, tanto mais que todos sabem o que se passou naquela escola e ultimamente no liceu, como o sabe muito bem o Sr. ministro. Mas os resultados vão se ver nas próximas eleições e o senador Ramos Pereira, principal culpado disto tudo, verá os resultados do seu trabalho.
Este facto vai servir de pretexto a alguns elementos que ainda não se tinham manifestado passarem para a oposição.
E para finalizar permita V. Exa. que como dedicado correligionário me parece conveniente para a política partidária nesta região.
Era conveniente nomear um Governador-Civil que tenha todo o apoio do governo, que conheça o distrito e que nada se faça aqui sem ele ser ouvido. Isto é absolutamente indispensável e eu digo-o francamente porque já me não considero Governador-Civil. Se não se fizer isto, este distrito que devia ser um baluarte Democrático pode perder-se muito rapidamente. (a)
Ao meu sucessor indicarei um certo número de medidas que julgo ser preciso tomar e por em execução com urgência se não quiser que tudo se perca.
Agradecendo a continuação e a confiança, que em si depositou

(a) Para isso trabalham afincadamente as oposições servindo-se de todos os meios
.

terça-feira, março 08, 2005

Braga, Alexandre (1871-1921)

Da média burguesia portuense, filho do advogado e escritor famoso, do mesmo nome, e sobrinho de Guilherme Braga, Alexandre Braga, filho, nasceu no Porto em 10 de Novembro de 1871, para vir a morrer em Lisboa em 7 de Abril de 1921. Formou-se em Direito, em Coimbra, abrindo, depois, banca de advogado no Porto e na capital. Desde estudante que aderiu ao ideário republi­cano, fundando efémeros jornais dedicados à causa (Portugal, a Crónica) e publicando, com Fausto Guedes Teixeira, folhetos políticos por ocasião da dita­dura Hintze Ribeiro - João Franco (1894).
Mas foi como orador que Alexandre Braga veio sobretudo a distinguir-se, tanto no foro como, e especialmente, na política. Ao lado de António José de Almeida e Afonso Costa, mas porventura maior do que eles no brilho e na construção retórica, contribuiu decisivamente para difundir os ideais que servia entre as massas. Muito popular, foi eleito deputado republicano por Lisboa em 1906 e depois, sucessivamente, até à morte. Os anos de 1906-10 corresponderam ao apogeu dos triunfos oratórios de A. Braga.
Paradoxalmente, a proclamação da República trouxe-lhe a deca­dência, tanto no discurso como no gozo da popularidade. Democrático, foi, no entanto, ministro do Interior no efémero governo Azevedo Coutinho (Dezem­bro de 1914 a Janeiro de 1915) e, com mais continuidade, ministro da Justiça no último governo Afonso Costa, derrubado pelo Sidonismo (Abril a Dezembro de 1917). Mas era, já então, pouco conceituado pela sua vida dissoluta e pela sua incapacidade para a superar.
Exilado em 1917-19, regressou depois a Por­tugal, distinguindo-se ainda pela sua interpretação do fenómeno sidonista e denunciação dos males internos do Partido Democrático que o haviam causa­do. Retirou-se da política em 1920, falecendo pouco depois. Pertenceu à Maço­naria, tendo sido iniciado em 1909 na loja Fax, de Lisboa.
Ministros e Parlamentares da 1ª Republica - Guinote et al - Lisboa - 1991 - Assembleia da República

Alexandre Braga - Um Histórico com pouco peso

Em 4 de Janeiro de 1914, Raimundo Meira recebe escrita pelo punho por Alexandre Braga, com o timbre do Gabinete do Ministro do Interior, a notícia da sua substituição no cargo de Governador Civil de Viana do Castelo.

Exmo. Sr. e prezado correligionário

Tenho a honra de lhe apresentar o Exmo. Sr. Francisco Coelho do Amaral Reis (Pedralva), que é, como Vexa sabe já, pelas informações dos nossos amigos Sá Cardoso e Ramos Pereira, o novo Governador Civil de Viana do Caste-lo.
É claro que, não desejando eu que nada se faça, referentemente àquele distrito, sem que Vexa seja ouvido, como de direito lhe pedi e recommendei para conferenciar com Vexa, à sua passagem no Porto, sobre assuntos daquele distrito.
Vexa, com o seu elevado e intelligente critério, o elucidará de forma a facilitar-lhe o desempenho da delicada missão que vai desempenhar, e eu confiantemente conto, não só com as invulgares qualidades do meu apresentado, mas também com o valiosíssimo concurso que Vexa por certo lhe offerecerá, dando-lhe o seu inteligente e prudente conselho.
Antes de fazer a nomeação, eu quis como me cumpriria, ouvir Vexa. Não o fiz, porém, por saber que Vexa de tudo estava informado por intermédio dos nos-sos amigos, e por se haverem precipitado as cousas de forma a tornar urgente uma solução do assumpto. Estou seguro de que as primorosas qualidades do meu recommendado hão de fazer dele, desde já e para sempre, um dos bons amigos de Vexa, tão arreigada é a convicção que tenho de que os bons espiri-tos e as boas almas se entendem sempre e reciprocamente se estimam.
Quanto a não ter feito a Vexa o devido convite a aceitar o cargo, para que tive a honra de convidar o meu apresentado, creio que Vexa terá, como eu, por desnecessárias, quaisquer explicações, tanto certo é que Vexa, conhece, talvez melhor do que eu, as poderosas e imperativas razões absolutamente indispen-sável para bem da Republica, a sua permanência no lugar de responsabilidade e de honra em que se encontra,
Apesar de tudo, porém, eu quero que fique bem acentuado o motivo porque não podia, querendo bem servir a Republica, tirá-lo de uma situação em que a presença de Vexa é absolutamente indispensável, para quem pode vislumbrar no meu acto uma manobra de desprimor para com Vexa.
Aguardando como sempre, as ordens com que queira distinguir-me, sou, com toda a estima e consideração,

De Vexa, cordialmente e dedicado

ALEXANDRE BRAGA.


A substituição anunciada por Alexandre Braga não aconteceu, pois veremos a seguir as peripécias para a sua substituição. Raimundo Meira abandonaria o lugar de Governador-civil de Viana do Castelo em 23 de Março de 1914.
O vira-casaca Francisco Coelho Amaral dos Reis – Visconde de Pedralva, apenas seria nomeado Governador-civil em 30 de Dezembro de 1914. Lugar que ocupou durante apenas 31 dias.
Desconheço o motivo que levou Alexandre Braga a imiscuir-se na política do ministério do interior, pois o lugar foi sempre ocupado por Rodrigo Rodrigues.

segunda-feira, março 07, 2005

Em 30 de Dezembro de 1913, Simas Machado, recebe a seguinte carta de Alfredo de Magalhães, escrita já depois do falhanço do jornal “O rebate” em que se mostra particularmente zangado com a vida e sobretudo com a República.

Meu caro Simas

Sei que duas vezes em vão me bateu à minha porta. Eu que faço hoje o maior sacrifício em sair à rua, vivendo exclusivamente para os meus livros e que a minha sobrinha, logo havia, por fatalidade, de estar fora quando você me procurou! Desejava só o prazer de vê-lo, e olhe que poucos são os Portugueses que hoje não me repugnam, e de trocar impressões consigo sobre a marcha vertiginosa da República não sei para onde…
Amigo, e creia sempre na amizade séria e lealíssima.
Todo seu

ALFREDO MAGALHÃES.

Pequena Interrupção

Excesso de trabalho a nível profissional, e algumas cartas escritas com caligrafia de dificil leitura, obrigaram-me a uma pequena interrupção na publicação deste blogue.
Resolvidos esses contratempos, a publicação vai continuar