terça-feira, junho 24, 2008

Os dias seguintes

A pesquisa sobre os dias seguintes à revolução do 14 de Maio está limitada aos recursos online, nomeadamente o Jornal “A Capital”, jornal que, segundo David Ferreira, foi um dos focos onde se preparou a Revolução.
Esse facto nota-se na leitura do jornal, os seus jornalistas estiveram presentes a bordo do Cruzador Vasco da Gama e do Almirante Reis, de onde relataram os acontecimentos. Os restantes artigos eram perfeitamente laudatórios da nova situação, entremeados de pequenos apontamentos que relatavam a situação nos bancos dos hospitais.

À direita, Leote do Rego, em cima Assis Camilo e do lado esquerdo, os Cruzadores Vasco da Gana, Almirante Reis e São Gabriel – Ilustração Portuguesa
O repórter que esteve no Vasco da Gama, entrevista um dos chefes da revolução, Leote do Rego, grande apoiante de João Franco, Monárquico a 4 de Outubro e republicano histórico no dia seguinte. Na entrevista Leote revela todo o seu cinismo, característico da sua personalidade “adesiva”, ao descrever o assassinato pela tripulação do anterior comandante do navio, Assis Camilo, quando Leote abordou o navio. “Foi um momento pungente. Era um camarada e um amigo. Foi morto pela tripulação em legitima defesa”

Mais caricato é o artigo de Brito Camacho publicado na Luta, que “A Capital” dá destaque. Camacho, apoiante de Pimenta de Castro até 24 horas antes da revolta, ataca fortemente o governo que apoiou, chamando de “vaidosos e medíocres” aos seus membros. O alvo da sua “ira” era Guilherme Moreira que apoda de “Criatura de mesquinha inteligência, Republicano de tirar e pôr, como os colarinhos de borracha.”
Nesse mesmo editorial, Camacho, que tudo tentou para ser ele, e não Pimenta de Castro a ser nomeado Presidente do Conselho, remata cinicamente dizendo que “A União Republicana participaria no novo governo apenas porque o presidente o havia solicitado, pois está muito bem assim, sentimos que a velhice precoce indica-nos que nos devemos afastar para dar lugar aos mais novos, aos sãos e robustos. Nunca tivemos ambições políticas e neste momento quasi nenhuma outra ambição temos senão a de nos apagarmos na sombra de uma honesta mediocridade entregue às predilecções do nosso espírito."
Brito Camacho, provavelmente o Político republicano com mais ambições, sempre disposto a dar passos maiores que as curtas pernas, que ele e o seu partido dispunham, não escreveu isto a pensar nele.
Estes dois últimos parágrafos são directamente dirigidos a António José de Almeida, esse sim com problemas de saúde e precocemente envelhecido, como as cartas de Luís Mesquita de Carvalho o demonstram, e que permaneceu neutral na disputa de 14 de Maio.


Pânico na Praça do Município – Ilustração Portuguesa
Sobre tudo o resto o Jornal apenas se limita a descrever que Lisboa está calma, não dando quase relevo às acções da formiga branca.

Piquete de populares e Marinheiros a revistarem automóveis – Ilustração Portuguesa

“A Capital” informa da presença das esquadras Inglesa (Alguns cruzadores) e Espanhola (1 Couraçado e 3 Cruzadores), afirmando que não havia qualquer motivo para a sua presença intimidatória.

NOTA: As fotografias foram obtidas a partir das digitalizações que Mariana Pinheiro fez da sua colecção da Ilustração Portuguesa" as quais podem ser consultadas no seu blogue "A Ilustração Portuguesa" e publicadas com sua autorização.

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segunda-feira, junho 02, 2008

A revolução de 14 de Maio

A seguir ao congresso de 4 de Março, os democráticos estabeleceram uma junta revolucionária constituída por José de Freitas Ribeiro (Marinha), Norton de Matos, Álvaro de Castro e Sá Cardoso (Exército) e Antó￳nio Maria da Silva(Maçonaria e Carbonária) para preparar o golpe contra o governo de Pimenta de Castro. Este golpe deveria ser em tudo idêntico ao 5 de Outubro e apoiava-se na Marinha (O Ramo mais favorável aos democráticos) e nas violentas organizações civis (Carbonária e Formiga Branca), uma vez que os apoios do exército eram reduzidos ou de pouca confiança.

Marinheiros Revoltosos carregam uma peça do cruzador Vasco da Gama - Ilustração Portuguesa
No dia 14 de Maio, a Marinha, Guarda-fiscal, uma parte da Guarda Republicana e 15000 civis armados enquadrados pela Carbonária e formiga branca revoltam-se e ocupam o arsenal da Marinha, onde se apoderam de um grande número de armas. Estas são distribuídas pelos civis. A reacção das tropas fiéis ao governo é tímida e apenas eficaz no primeiro dia. Infantaria 16 ainda cerca o arsenal da Marinha, mas é violentamente bombardeado pelos navios da armada. Artilharia tenta ainda bombardear os navios, mas estes ripostam e arrasam o alto de Santa Catarina. Ao todo crê-se que a revolta de 14 de Maio provocou entre 200 a 500 mortos e mais de 1000 feridos, Até hoje, o 14 de Maio foi a mais violenta revolta que sucedeu em Portugal.

Sá Cardoso proclamando o fim do Governo de Pimenta de Castro – Benoliel-Arquivo fotográfico da C.M.L.

No entanto a maioria dos mortos não ocorreu com os bombardeamentos navais do dia 14, mas sim com as perseguições e ajustes de contas da Carbonária e formiga branca. Entre 14 e 17 de Maio não existiu lei na cidade de Lisboa, o que deu mão livre à carbonária e à formiga branca para realizarem razias, pilhagens e assassinatos dos seus inimigos (+ de 20 policias e vários cadetes da escola de guerra foram sumariamente executados). Tal violência motivou o envio de esquadras de França, Espanha e Inglaterra, e foi apenas a sua presença que acalmou os ânimos e obrigou as novas autoridades a restabelecerem a ordem.

Elementos da Formiga Branca à Porta do Arsenal da Marinha
Sobre a actuação da Formiga Branca, Afonso Costa tece-lhe um profundo elogio nas Páginas do Jornal “O Mundo” –
"A verdade é que a Formiga Branca, como associação ou instituição revolucionária, não existe. A chamada Formiga Branca é apenas o povo que ama a republica, hoje como em 5 de Outubro, e que, por muito a amar, zelosamente a vigia e a defende. O partido republicano português não tem que enjeitar essa formiga branca, porque o partido republicano português tem de ser, e é, um partido popular, no exacto sentido do termo"

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