sexta-feira, março 11, 2005

A Igreja perseguida

As perseguições ao clero continuavam, Queiroz Vaz-Guedes (Referido na carta de Afonso Costa) dá conta dos seus actos a Raimundo Meira em 23 de Janeiro.

Meu excelentíssimo amigo

Recebi a sua carta com os documentos inclusos e apreciei como mereciam o diálogo em verso do Satanáz com o Gaspar Gomes, que não é aliás meu caseiro, e o mais. A questão do arrendamento do passal cifra-se no seguinte: como Vexa sabe as freguesias por aí são muito pequenas e o povo vê-se e deseja-se para pagar aos padres; fiz portanto propaganda na minha freguesia no sentido de convencer os habitantes a que encarregassem um só padre de paroquiar as duas freguesias de Pedreiro, que é a minha e a vizinha de S. Tiago de Cendufe. Parece que se convenceram e conseguiram convencer os padres, um dos quais, o de S. Tiago, está expulso da residência; parece que este concorda em se ir embora da freguesia com o que a República nada perderá, passando o encomendado de Pedreiro a ir residir em São Tiago, o que também lhe dá jeito por causa de uma quinta que ali comprou, mas para ele ir é preciso que lhe permitam arrendar a residência e passal de S. Tiago pagando, é claro maior renda que a actual e evitando-se que esteja a deteriorar-se abandonada a residência de S. Tiago. Creio que seria muito bom conseguir o que deixo dito: lucrava o estado na renda, o povo das duas freguesias na diminuição dos encargos e a instrução, pois ficávamos com a residência de Pedreiro, que é boa para a aplicar e suprir a falta essencial de casa para as escolas da freguesia. Peço portanto a Vexa que empenhe para o conseguir todo o seu bom esforço.
Quanto ao administrador, se o bacharel a que Vexa se refere é como julgo o filho do Dr. Souza, é o pior que pode ser; além de parvo e talvez mesmo por o ser, é criatura completamente do José Guimarães, tendo pedido nas últimas eleições o voto a um meu caseiro afirmando-se Camachista. Isto para além das prendas do pai e dos tios nos Arcos e em Melgaço.
Queria-se pessoa com tino, critério e um pouco de autoridade, aliás continuaremos na mesma ou pior.

Com muita estima, de Vexa. Correligionário e amigo muito dedicado

Lisboa 23/01/1914

Queiroz Vaz-Guedes