Porto, 18/5/1915
Meu Exmo. Camarada e prezadíssimo amigo
Nos agitados dias que passaram não pude falar-lhe, embora procurasse por várias vezes fazê-lo. Na segunda-feira (17 de Maio) saí para cumprir com as obrigações que estão a meu cargo e julgava poder continuar a minha vida habitual, pois nunca julguei que pudesse ser perseguido por republicanos por pertencer a um partido republicano, que só tem honrado a republica. Porém procurou-me na minha casa pessoa categorizada e chefe revolucionário que me foi pedir para me retirar da minha casa e afastar-me por algum tempo daqui. Estranhei tal pedido e respondi-lhe o que a minha consciência e a minha dignidade me ditavam. Porém, as razões que me expôs convenceram-me a retirar. Não sei ainda ara onde irei, mas antes de partir era meu dever comunicar-lhe o que se passava e dizer-lhe, antes de escrever ao Dr. Almeida, quais as disposições do meu espírito, ante a tremenda catástrofe que abalou tão desgraçado país. Completamente desiludido, perdida toda a fé, julgando mesmo já impossível de realizar o programa do nosso partido, único que poderia dar a felicidade a este povo e assentar em bases sólidas a republica eu resolvera retirar-me completamente da política diante da hecatombe. Retirava-me por julgar inútil, todo o meu esforço por maior que ele pudesse ser. Mas depois de me ver perseguido pelos próprios republicanos a quem eu sempre ajudei quanto pude, não procurando mesmo saber a que partido pertenciam, pois nunca nutri ódio ou desprezo por ninguém, eu julgo que só tenho um caminho a seguir que é o de me retirar completamente de tudo. Assim lho comunico, antes de o fazer a mais ninguém, pela muita estima e consideração que me merece. Peço-lhe o favor de transmitir aos nossos dedicados correligionários as razões expostas e pelas quais não me poderão ver ao seu lado, não esquecendo o Alfredo de Magalhães cujo carácter muito apreciei sempre. Junto remeto duas chaves, sendo uma da porta do centro e a outra da secretária. Muito desejava saber as impressões do meu bom amigo e se tiver um momento disponível pode escrever-me para a minha casa, Avenida do Brasil, 791, porque ficou lá pessoa encarregue de me remeter a correspondência. E disponha sempre do exilado.
Do amigo muito dedicado Arthur Jorge Guimarães |
2 Comments:
Li artigo sobre Casa do Relógio na Foz do Douro.
Em todas as vertentes é excelente. Na denúncia, e perdoa-me, parece mais um nativo de Nevogilde (só este pequeno pormenor de localização)gritando É DEMAIS! do que ribatejano. Pela fotografia e pela rima. Fora de série. Sinto-me até a pedir-lhe que me deixe transcrever no meu site com o devido crédito. Caso afirmativo, peço resposta para ruivieira.1950@gmail.com
Os meus parabéns.
Boa tarde, somos um grupo de estudantes da escola superior de educação, curso gestão do património. Estamos a elaborar um trabalho sobre "património esquecido" onde escolhemos 3 "ruinas" para trabalhar , sendo uma delas a Casa do Relógio de Sol (Sanatório de Valongo e Fábrica de Cerâmica das Devesas) , ficamos encantados com esta carta. Sabe de mais alguma informação importante sobre a casa ? O que acha da casa estar tão degradada ?
aguardo resposta para o e-mail danielahmoreira@hotmail.com
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