segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Resultados das Eleições*

Em 16 de Novembro de 1913 realizaram-se eleições legislativas para as vagas de 37 deputados, em 28 círculos, 397 038 eleitores recenseados, votaram apenas 150 000 votantes, o que corresponde a uma taxa de abstenção de 62.2%, conquistando os democráticos 34 desses lugares. Foi invocando este pretexto que os unionistas de Brito Camacho retiraram o apoio parlamentar que davam ao governo, com o argumento de tal já não ser necessário. Eleições autárquicas Em 30 de Novembro, nas eleições para os corpos administrativos, nova euforia vitoriosa dos afonsistas que conquistaram 205 das 291 vereações, constituídas exclusivamente por militantes democráticos. A oposição apenas conseguiu 68. Aliás, em Lisboa, os mesmos democráticos obtiveram 10 830 dos 15 346 votos apurados.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

A Preparação das Eleições

A preparação do acto eleitoral foi bastante cuidada, uma vez os governos civis na mãos do Partido democrático e demitidos os administradores de concelhos que não inspiravam confiança, Afonso Costa apenas necessitou de gerir as ambições dos políticos locais para obter uma “vitória” esmagadora.
Em 12 de Novembro de 1913, Afonso Costa escreve a Raimundo Meira dando as últimas instruções para as eleições. A carta fala por si e dispensa quaisquer comentários.


Meu ilustre amigo

Escrevi ao Dr. Queiróz Vaz-Guedes alvitrando que dirija ele, em pessoa, supe-riormente, a eleição dos Arcos (de Valdevez), a fim de que não falte nas urnas nem um só dos votos dos nossos amigos, qualquer que seja o grupo em que se encontrem. Peço-lhe que dê indicações nesse sentido, com as devidas atenções, ao Sr. Administrador do Concelho, que certamente dará toda a consideração ao meu alvitre, unicamente determinado pelos interesses do Partido e pela necessidade de não perdermos, por causas meramente formais, nem um só dos nossos votos, Demais, estando ele a dois dias de ser o nosso Governador Civil em Angra, decerto quererá dar-me mais este testemunho de boa-vontade.
Quando fui ao Porto, tive as melhores notícias do seu Distrito. Parece que as eleições dos deputados nos dois círculos não serão duvidosas. Esse sucesso tem muita significação numa região do país, em que o governo, o partido e a sua obra anti-clerical tem sido tão atacada e volta-se em saudação para Vexa, como digno Magistrado do Distrito.
Peço-lhe que nos mande todos os informes úteis, não só desta eleição, mas das seguintes de 30, e acredite na minha consideração e amizade, como

De vexas
Correlegionário muito dedicado

Afonso Costa

Lisboa, 12 Nov. 1913

P.S: Tive muito prazer em renovar o empréstimo para Governo Civil, etc, desse distrito. Foi uma obra de justiça
.




Afastando as "pedras" do caminho

A ofensiva do Partido Democrático prosseguia. Raimundo Meira aproveitava qualquer ocasião para eliminar a oposição existente e colocar à frente dos municípios pessoas da sua confiança. Em 16 de Setembro de 1913 retira a confiança ao Administrador do concelho de Melgaço. Este apresenta a sua demissão passados 10 dias.

Exmo. Sr.

Tendo Vexa. Significado em seu ofício n.º 445 de 16 do corrente, que não lhe mereciam inteira confiança as minhas informações oficiais, acerca das obras da pesqueira a que o mesmo ofício se refere, e isto por não serem elas conformes com outras informações particulares, que sem fundamento de verdade foram dadas a Vexa, acerca do mesmo assunto; e não tendo querido Vexa. Aceitar a justificação do meu procedimento exposto no meu ofício n.º 144 de 20 do corrente, tanto que tal ofício me foi devolvido por ordem de Vexa., como consta do ofício emanado d’esse Governo Civil sob o n.º 461, assinado pelo oficial-chefe da 2ª repartição, no qual se diz que fui “incorrecto e inconveniente” para com Vexa., julgo do meu dever, por não poder continuar a merecer a Vexa. a necessária confiança no desempenho das minhas funções a meu cargo, pedir a minha demissão, depositando nas mãos de Vexa., o lugar de Administrador deste Concelho.

Saúde e Fraternidade
Administração do Concelho de Melgaço
O Administrador do Concelho

António Augusto Simão

As eleições de 1913*

A assembleia constituinte de 1911, que originalmente era destinada unicamente à elaboração e aprovação da nova constituição, manteve-se em funções e passou a uma assembleia legislativa, uma vez que os republicanos temiam perder o poder enquanto a sua rede de caciques não estivesse a operar no terreno. Entretanto, em 1912, procedeu-se à criação do Senado cujos membros foram todos eleitos por nomeação.
A 3 de Julho de 1913 e com o objectivo de legitimar a ditadura democrática, Afonso Costa publica a lei eleitoral para as eleições que se previstas para o seguinte mês de Novembro. Sobre esta lei diz Vasco Pulido Valente em “A República Velha (1910-1917), Págs. 42 e 43:
A 3 de Julho saia a nova lei eleitoral, que estabelecia os fundamentos jurídicos da ditadura democrática. […] Afonso Costa tirou, pura e simplesmente, o direito de voto aos analfabetos.
Em 5 de Outubro existiam cerca de 700 000 eleitores; em 1911, 850 000; em 1913 0 número baixou para cerca de 600 000, pouco mais que em 1871. (já tinham sido, 950 000 em 1890).
Esta drástica redução do país político deixava de fora, como antes, mais do que antes, o Portugal Monárquico e Católico, mas também eliminava o potencial eleitorado unionista e, sobretudo o evolucionista. A maior parte dos Portugueses que sabiam ler e escrever estavam nas cidades e preferiam Afonso Costa a António José de Almeida. As massas rurais não podiam agora votar contra a República e, assim o partido democrático justificava a sua exclusão. Só que não poderiam igualmente votar pelos moderados, que ficavam reduzidos a uma perpétua insignificância. Afonso Costa não reconhecia direitos a ninguém que não pertencesse à pequena nação radical. Quem fosse contra ela, ou contra ele, alienava a sua qualidade de humano. “Se quiserem fazer eleições com analfabetos”, berrava ele aos evolucionistas, “façam-nas os senhores, porque e quero fazê-las com votos conscientes […] Indivíduos que não conhecem os confins da sua paróquia, que não têm ideias nítidas e exactas de coisa nenhuma, nem de nenhuma pessoa, não devem ir à urna, para não dizer que foi com carneiros* que confirmamos a república” […]
A lei impunha tantas e tão complexas formalidades no recenseamento, que ele se tornava difícil sem a assistência de uma organização, ou seja de um partido. Um dos quesitos necessários para ser recenseado era possuir um atestado de residência, o qual só podia ser passado pelas comissões administrativas concelhias, e estas eram na sua quase totalidade Democráticas. Com este poder o partido democrático, o único que dispunha de uma presença efectiva em todo o país, pode mondar o eleitorado à sua vontade e muitos potenciais eleitores (220 000 em 600 000) não chegou sequer a recensear-se […]
*A Carneirada era constituída por cerca de 5 milhões de Portugueses, ou seja, mais de 80% da população.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Uma “confraria” Republicana (II)

Qual seria então o grande interesse que a alteração dos estatutos desta confraria despertava em Bernardo Chougas. Em Dezembro, Afonso Viana, médico municipal explica o resultado da alteração dos estatutos numa carta a Raimundo Meira.

Coura, 13-12-1913

Meu estimado amigo

Os trabalhos eleitorais, muito absorventes não deixaram-me tratar dos assuntos de interesse particular, por isso não acusei nem agradeci a carta de Vexa de 7 do passado.
A Confraria do Espírito Santo modificou os seus estatutos na parte referente à questão do médico. Esse projecto de modificação já deu entrada no Governo-Civil.
Na minha carta procurei demonstrar a Vexa. que a Confraria, ou antes, o seu prior. Não tinha em vista beneficiar o concelho, mas servia-se desse truc (assim no original) para me atingir apoiando-se nos meus próprios correligionários.
Há nesta questão as manhas de padre que a mim já não conseguem apanhar desprevenido. O concelho não fica beneficiado, fica exactamente nas mesmas circunstâncias e eu prejudicado nos meus legítimos interesses.
No acréscimo feito os estatutos era que a ideia está de harmonia com a gramática empregada, lá está: - “
dar da beneficência da confraria uma determinada quantia ao hospital da misericórdia para a sustentação de um partido médico com a condição de serem tratados gratuitamente os pobres da confraria”.- É aqui que está o número. Que pobres são estes? São os do Conselho administrativo, aqueles que eu, como médico municipal sou obrigado a tratar gratuitamente? Não são. São os pobres que a confraria entender, porque é ela que há de atestar sem responsabilidades legais, e assim pode atestar que os irmãos são na sua maioria pobres. Fica pois uma manifesta desigualdade entre mim e outros colegas, porque à sua clínica concorrerão todos, sabendo que não pagarão honorários, quando os podem pagar; basta munirem-se de um atestado do Sr. Prior.
Diz-me Vexa. que não devia estorvar o que a confraria dizia ser útil para a sua terra.
Há um reparo a fazer: se a confraria criar um lugar de médico privativo para os seus irmãos, indistintamente, está no seu direito, mas sujeita às cláusulas especiais das associações de socorros mútuos. Da parceria com o hospital não o pode fazer, porque o hospital tem nos seus estatutos a obrigação absolutamente legal de ter um médico seu para tratar dos pobres do concelho hospitalizados ou de quem se socorra dessa casa, mas que a título de médico do hospital tenha a obrigação de tratar cá fora doentes pobres seja a que confraria for, é que não pode ser, é cláusula que não pode ser incluída nas condições do concurso.
Já tive a ocasião de dizer a V. Exa. que não estou contra a criação de outro partido médico, podia até auxiliar esses desejos, mas médico que fique na sua clínica nas mesmas circunstâncias que eu, para se evitar desavenças entre colegas, que é muito feio. Cria a Câmara outro partido médico com a condição particular de ser esse médico também do hospital, ficaria o caso resolvido.
Enfim, para mim esta questão tem já uma medíocre importância, pois resolvi na primeira oportunidade sair daqui, o que faço com pesar porque certamente deixo o meu distrito, afastando-me da minha querida Viana. A oportunidade parece-me ser já, porque vai ser posto a concurso o lugar de médico da penitenciária de Coimbra e eu vou concorrer, e, até pedia que empregasse os seus bons ofícios junto do Sr. Ministro da Justiça para o meu provimento. Se escapar esta oportunidade outra aparecerá, porque eu estou com a firme resolução de me retirar.

De Vexa. Afectuosamente

Afonso Viana


Não posso garantir que o autor da carta anterior, Bernardo Chougas, fosse o padre que Afonso Viana nomeia nesta sua carta, mas uma coisa é certa, uma pequena minoria de padres acolheu com bom grado as novas determinações governamentais, tendo por isso recebido recompensas e apoios do governo central.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Uma “confraria” Republicana (I)

Com a Republica assiste-se à perseguição dos religiosos e ao assalto dos bens da Igreja. As confrarias religiosas também foram objecto de intervenção pelo que uma das funções dos Governadores-civis era a de as colocar ao serviço da causa republicana. Em 28 de Outubro, Bernardino Chougas de Paredes de Coura escreve a Raimundo Meira.

Paredes de Coura 28-X-1913

Meu caro Raimundo Meira

Esperava ir aí pessoalmente agradecer-te a honra inestimável de desceres à … (Ilegível) da Santa para me dares a prazer duma visita - a ti e ao Ramos Pereira.
A contrariedade sentida por te não receber na minha humilde choupana, eu a experimentei deveras. E de resto, fica-o sabendo, quando precisares de me falar, intima-me que eu logo apareço. Porém o mau tempo da natureza e o "mau tempo" que fez durante um pouco a política”, não consentem muitas viagens.
Agradeço-te imenso a aprovação do orçamento da Confraria do Espírito Santo. Mas... o favor não está completo e graves transtornos causará se ele não se ultime depressa.
Aprovados ou rejeitados queria que me enviasses os estatutos da mesma confraria, indicando-me, sendo reprovados as alterações que neles é necessário fazer.
Provavelmente nem tu sabes de tais estatutos. Mas se os dizeres que correm, se deve algum crédito, eles encontram-se na gaveta dum funcionário do Governo-Civil, grande devoto da confraria, que si verá est fama, lhe tem oferecido alguns milhares de escudos para os seus estatutos serem reformados e aprovados. Mas isto não é negócio para cartas, embora te deva merecer alguns cuidados, afim que todos digam que o governo-civil está à altura do valor e carácter do governador-civil. Capacidade e honestidade tens tu, e ainda bem para nós todos; e hás de fazer que os outros a tenham.
Mas.... Desencanta-me os estatutos da confraria do espírito santo e manda-mos com a possível urgência e as indicações pedidas.

Um abraço cordial

Bernardo Chougas


Amanhã veremos qual o resultado deste insodável interesse na alteração dos estatutos da Confraria.

sábado, fevereiro 12, 2005

Um Jornal em Bolandas (II)

Simas Machado, candidato pelo recém-formado Partido Republicano Evolucionista de António José de Almeida, recebe uma missiva de Alfredo Magalhães, em que este lhe comunica ter recebido a notícia da sua candidatura e conti-nua a queixar-se das finanças do seu Jornal.

Meu caro Simas Machado:

Esta tarde soube pelo telefone da sua resolução, que logo afixei no nosso placard. Telegrafei a saudá-lo, e reitero aqui as minhas saudações, porque exemplos de integridade moral como o que você deu, são já absolutamente raros. Que esgotamento da sociedade portuguesa! Como é que isto se mantém de pé?
Foi aí Reis Santos, que deve regressar logo, e creio eu que nada lhe fizeram Você e o Pimenta. Que diabo! De tal modo está isso aí que não é possível levantar-se três ou quatro centenas de mil reis? Vamos ter dinheiro dentro de poucos dias, que não posso precisar com tanto rigor, e não me resta dúvida que o jornal vinga. Tenho os melhores indicadores de que estou batendo car-tas. Nós estamos atravessando um momento de crise quasi angustiosa. Se vocês nos pudessem valer! Em todo o caso. Só pelo telégrafo hoje, em vale, teria recebido a solução. É hoje o dia crítico, depois começamos a receber produto do jornal e acções já distribuídas da empresa vinte contos.

Alfredo Magalhães

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Um Jornal em Bolandas (I)

Enquanto Raimundo Meira implantava o poder de Afonso Costa no Alto-Minho, Simas Machado, Presidente do Congresso recebia novidades da aventura jornalística de Alfredo de Magalhães, que lutava com todas as suas forças pelo êxito de "O Rebate". Este No final do mês de Agosto escreve a Simas Machado

Meu caro Simas Machado

Escrevo-lhe a toda a pressa. Nunca recebi a sua carta que o Pimenta me disse ter, por esquecimento, deixado no Porto.
Peço-lhe um grande favor, cuja resposta tem de ser indicada telegraficamente. Queria que nos obtivesse já trezentos mil reis pelo menos, pois quatrocentos é que nos faziam grande arranjo, por um mês apenas. Estamos a começar a nossa cobrança e ainda não recebemos dinheiro de Africa, que deve estar a romper ali.
Amanhã, Sábado, termina o nosso primeiro mês, é o dia mais difícil, depois tudo entrará na normalidade. Temos de fazer pagamento, impossível faltar a ele. Você juntamente com o Adriano Pimenta não pode levantar pequeníssima questão no Banco Comercial. Asseguro que entraremos com ela no final de Setembro.
A dificuldade única é esta e neste momento, creia que lhe falo com toda a verdade.
Estamos vendendo bem, recebemos aplausos, incitamentos, daí este pequeno apoio.
Quer saber uma novidade? Afonso era, não sei se é ainda, director da Companhia Agrícola do Príncipe, e como director enviou um telegrama ao pessoal da Companhia, recomendando que votasse no Teixeira de Sousa! Foi nas últimas eleições da monarquia. Que me diz você?
Não tenho tempo para mais.
É indispensável que o telegrama com o vale dos trezentos mil reis chegue aqui hoje, Sábado, o mais cedo possível. Preste-nos este serviço!

Alfredo


"O Rebate", localizava-se em São Pedro de Alcântara, em frente ao Elevador da Glória e entre os seus colaboradores encontrava-se o Poeta Mário de Sá Carneiro.

Ordens do Ministro

As questões relativas ao Alto-Minho eram levadas a despacho com o Ministro do Interior. Este respondeu em 3 de Setembro de 1913 a uma série de pedidos de Raimundo Meira.


Meu Exmo. Amigo

Acuso recepção da carta de dia 30.

Sobre a Câmara de Coura havia umas dúvidas e uma falta de formalidades que mandei preencher. Não esquecerá.
Enquanto à transferência de verbas destinadas às estradas diz-me o Ministro do Fomento que é ilegal e agora avisou-me pelo telefone que já fez saber as razões disso ao Afonso Costa.
A Guarda (Cavª) irá logo que recolham os oficiais das escolas. Tenho infor-mações que só então será talvez precisa.
Armas, é impossível obtê-las …. Em tempo de paz.
O nosso Bastos* defende-se que as não tem e que só em ocasião de perigo isso se obteria.
É indispensável estar de vista sobre os reaccionários. O meu último telegrama resultou de alguns Governadores-civis terem mandado executar imediatamente as ordens que receberam para a eventualidade provável e que talvez seja próxima.
É bom estar avisado para a ocasião oportuna.
Sobre a Escola Normal vou chamar a atenção do Ministro da Instrução. Este tem estado doente.

3 Setembro de 1913

Rodrigo Rodrigues


* Pereira Bastos – Ministro da Guerra

NOTA: o pedido de armas, não se destinava a qualquer unidade militar, tal não era da competência do Governo-Civil, destinava-se sim a armar milícias republicanas para esta perseguirem os oposicionistas ao Partido Democrático.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Narciso - Um cacique da 1ª Republica

Em 12 de Agosto de 1913, um despeitado Narciso Faria de Lima, líder do Centro Democrático dos Arcos de Valdevez, escreve esta longa missiva ao Governador-Civil.

Arcos de Valdevez, 12 de Agosto de 1913

Exmo. Sr. Raimundo Meira

Cumprimento Vexa e desejo um completo restabelecimento de saúde à esposa de Vexa para quem peço meus respeitos.
Exmo. Sr.
É tempo de se liquidar esta questão política dos Arcos, para bem do Partido que Vexa tão dignamente representa.
Acho extraordinária a indecisão de Vexa entre a nossa família, que por assim dizer é uma única neste concelho e um indivíduo estranho a este concelho e financeiramente liquidado.
Vexa, fiel servidor da República e da Pátria com o seu lugar distinto oficial do exército.
Vexa, filho de Viana e quem diz Viana, diz Arcos de Valdevez.
Vexa, que conhece toda a minha família e o grande valor político que essa família tinha.
Vexa que pode avaliar a independência dessa família, base principal para resolver muitas questões e prestar grandes serviços.
Vexa que na minha pessoa e de alguns amigos pode conseguir um núcleo de leais partidários, porque creia bem Vexa, nós nada queremos da República, mas sim que essa República seja servida por verdadeiros republicanos, homens honestos e honrosos.
Estamos e estaremos incondicionalmente ao lado de Vexa, mas para isso é necessário que Vexa se decida e dê o seu apoio a quem desinteressadamente servirá a República.
Caso esse apoio não possa ser concedido por Vexa, se Vexa tem dúvida nas nossas afirmações, então para quê demorar mais tempo esta ridícula situação.
Valiosos elementos estão actualmente connosco, são eles os Srs:
António José Barbosa, Brasileiro – Capitalista;
Manuel Pereira Rodrigues – Abastado proprietário;
Gaspar Pereira Pimenta de Castro da Casa da Senra;
Lima – Morgado de Senharei;
Dantas – Proprietário da freguesia de São Tomé da Águia.
Todos estes cidadãos reprovam a orientação política do M. Guimarães e esperam com ansiedade a decisão de Vexa e francamente se Vexa deseja o que tenho dito nas minhas anteriores e que sem mais preâmbulos a destituição imediata do actual administrador e a nomeação até Vexa nomear outro administrador exerça esse lugar, o actual Vice-presidente da câmara, o que é de lei.

Nós numa reunião no Centro Democrático declaramos positivamente que não transigimos com o M. Guimarães e Cia, firma politica de arranjistas organizada nos Arcos. Essa firma até agora tem sabido libertar-se de quanto o Governador-Civil tem aparecido em Viana e infelizmente até agora eles contam com o apoio de Vexa e a prova está que Vexa continua a o conservar na administração deste concelho um dos sócios de tal firma.
Porque Vexa dá o seu apoio a um indivíduo que está com dois processos às costas. Acaso aqui em Arcos de Valdevez não existem republicanos dignos e honrados que possam ocupar um lugar de confiança do Governo.
Parece impossível tendo Vexa um carácter austero, distinto militar do exército português, leal defensor da república, vacile em dar o seu apoio aquém nenhum sacrifício pede à nação. A quem leal e honradamente defende a República e Vexa sugestionado por uma firma de arranjistas que o querem é comer, acreditando nas falsas afirmações deles que vão dizer a Vexa que eles têm o apoio dos chefes monárquicos, que tem os párocos da freguesias e outras tantas mentiras e com essas mentiras eles continuam a merecer a confiança e Vexa e amanhã se for preciso que a tal firma faça um sacrifício pela republica, Vexa os encontrará no campo oposto. A questão é de uma boa talhada.
Enfim, já disse francamente o que tinha a dizer a Vexa e falo pela boca dos meus correligionários sócios do centro Democrático.
Não entramos em acordos políticos com a firma Guimarães e Cia por principio nenhum.
Nós desejamos que seja administrador do concelho o actual Vice-Presidente da Câmara e que entre já em exercício e mais tarde Vexa resolverá.
Nós não concordamos com a nomeação de um administrador de fora, por ser prejudicial nesta ocasião ao Partido Democrático, cujo Partido só nós podemos organizar, pois aqui não há organização partidária e garanto-lhe a Vexa que nem haverá se Vexa não tiver em consideração as nossas afirmações.
Cá da nossa parte garantimos a Vexa uma vitória do Partido Democrático, porque somos cidadãos livres e independentes e com a melhor vontade sacrificaremos alguns dos nossos interesses para o valor da nossa palavra.
Estou às ordens de Vexa, e desejava em nome do Grupo Democrático uma decisão de Vexa.
Com esta é a terceira carta e a nenhuma Vexa se dignou a dar-me resposta.
O meu sogro, M. Barreiros, na organização do Partido será o Presidente da Assembleia-Geral e da Comissão política, e os partidários nossos amigos estão resolvidos a nomear Vexa, Patrono do Centro.
Esperamos muito receber resposta de Vexa, sendo-nos impossível permanecer nesta incerteza.
De Vexa, com estima e consideração

Narciso Faria de Lima


domingo, fevereiro 06, 2005

Viana

Em Viana do Castelo, a vida decorria dentro da “normalidade” Republicana, e com o aproximar das primeiras eleições pluripartidárias, começam as lutas intestinas pelo poder local. È tempo de entrarem em cena os “Caciques”.

Viana do Castelo - Ponte Eiffel - Postal do início do Séc XX

Raimundo Meira, como Governador Civil, era a peça central do esquema “Democrático” de domínio do poder. Dentro das suas competências encontrava-se a organização da actividade política do PRP no Alto-Minho.
Para além de ter de combater todos os que não pertenciam à facção de Afonso Costa, o Governador-Civil mais do que o representante do governo, era o líder do partido a que pertencia na sua região, tendo por isso que gerir as lutas intestinas pelo poder, dentro do próprio Partido Democrático.
Durante a 1ª Republica as lutas pelo poder dentro do Partido Democrático nos Arcos de Valdevez, obrigarão mesmo à intervenção pessoal de Afonso Costa.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Purgas

Em 8 de Agosto, Raimundo Meira recebe, em Viana do Castelo, o Ofício confidencial n.º 67, proveniente da 2ª Repartição do comando da 5ª Divisão do Exército.


Exmo. Senhor

Tendo-se procedido neste comando por ordem da secretaria de guerra a averiguações acerca da atitude tomada pelo Senhor Tenente-Coronel do regimento de infantaria 23, José da Silva Bandeira, por ocasião dos acontecimentos motivados pelo desdobramento da faculdade de direito e, constando do depoimento de Senhor Capitão Paul, comandante das forças da Guarda Republicana que estiveram nesta cidade por essa ocasião, o que junto por cópia, rogo a Vexa que se digne dizer o que se lhe ofereça sobre este assunto e, sendo possível, indicando quaisquer indivíduos que também possam ser ouvidos, a fim de que as suas declarações concorram para eu poder formar um juízo seguro sobre o procedimento do referido oficial.

Saúde e fraternidade

Coimbra, 8 de Agosto de 1913

O Comandante da 5ª Divisão do Exército
Pereira de Campos



Capitão Paul - Provavelmente será a mesma pessoa que na fatídica tarde de 1 de Fevereiro de 1908, ainda Tenente da Guarda Municipal, escoltou a família real do Arsenal da Marinha para o Palácio das Necessidades conforme relata sua Magestade El-Rei D. Manuel II