sábado, setembro 24, 2005

Governo Civil a ferro e fogo

Em Dezembro, o homem de mão de Raimundo Meira, Rodrigo Luciano de Abreu Lima e apoiante de uma das várias facções do Partido Democrático no Alto-Minho, que se digladiavam entre si, escreve duas cartas, sobre as actividades do Governador Civil adjunto, membro de uma facção rival da sua.

Meu caro Amigo

Manter o Antunes como governador civil substituto é impossível!
Digo-lhe com a máxima lealdade, com toda a verdade e isenção com que sem-pre tenho procedido.
Não se engane. É um homem sem competência e sem senso para estar naquele lugar, sendo os seus actos uma permanente provocação a tudo e a todos.
Disse-lhe na minha última carta que convinha manter o actual governador civil*. Ainda agora digo a mesma coisa, caso não venha o Meira ter bom lugar e, como republicano e como homem. O Antunes aproveitando-se da sua ida a Lisboa nomeou mais uma vez o Peixoto para administrador, um homem que tem feito as maiores tropelias. Amanhã lhe escreverei com mais detalhes, mas se eu lhe mereço consideração pela minha dedicação à república acredite que esta situação é perigosíssima para o partido e para a república. É tardíssimo e não tenho tempo para lhe escrever mais hoje

Seu amigo
Muito obrigado
18/12/1914
Rodrigo d’ Abreu





Meu caro amigo

O Formiga* foi ao Porto, ou melhor a Lisboa, e o Antunes estando o Brandão como administrador nomeou imediatamente o Peixoto, meia hora depois. Isto não pode ser.
O homem está parvo e anda a colocar a República e o partido numa situação crítica o mais possível! Homens destes não são republicanos, são traidores! Ri-se toda a gente de semelhante comédia.
Quando atenderem os que lhes digo, têm isto tudo em Cavacos!
O Formiga não pediu, ou antes, não recebeu ainda a demissão e o ministro dera-lhe apenas licença para ir a Lisboa. Como lhe disse, convém que ele fique, senão vem para cá o meu amigo. Disse-me que ainda não sabia se ficaria ou não, mas que não lhe desagradava ficar, se não pusessem condições impossíveis de aceitar.
O que lhe disse nas outras cartas prevalece. O homem, a vir um de novo serve bem. É frio, é sério e é republicano.
Esta situação é que não se pode manter, Garantir-lhe; se a minha consciência não me impusesse como um dever, estar do lado da república, eu abandonaria tudo isto, porque no meio de tamanha desorientação vive-se em constante mal-estar.
Peço-lhe que com urgência escreva para Lisboa pedindo remédio para estas coisas. Tirem o Antunes de Governador Civil para bem da República e honra de todos nós.
O momento é de grande melindre para a nação e por todos os motivos preciso se torna não permitir coisas destas.
A indignação é geral.

Um Abraço do

Rodrigo de Abreu

* Formiga – O Governador Civil, Guilherme Rodrigues, que ocupou o cargo entre Setembro e Dezembro de 1914

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domingo, setembro 18, 2005

Cunha presidencial

Em 5 de Dezembro, (Dia em que Bernardino Machado apresenta a demissão) Ramos Pereira escreve, da provedoria central da assistência de Lisboa a seguinte carta a Raimundo Meira. Nesta carta, Ramos Pereira tenta demover Raimundo Meira de abandonar o controlo da política no distrito de Viana do Castelo enquanto aproveita para dar indicações para uma cunha pedida pela mulher do Presidente da República, Manuel de Arriaga.

5/XII/1914

Meu caro Meira

Desculpa só hoje responder às tuas cartas, o que é devido a ter andado com um ataque de gripe que me tem acamado.
Vi a carta que escreveste a Germano Martins* e tenho a afirmar-te categoricamente que o Afonso não tem responsabilidade alguma na colocação do Faria de Lima nos Arcos o que é somente devido ao Ministro da Justiça*, hoje demissionário.
Por isto julgo que todos nas nos devemos conservar unidos mais do que nunca, na esperança de se poder, senão emendar o mal feito, pelo menos remediá-lo, atenuando as suas consequências.
Tu não podes nem deves no momento actual abandonar a vida activa do partido no nosso distrito, pois que tens atribuídas à tua individualidade politica responsabilidades que de modo algum te podem consentir tal resolução.
Contrariedades quem as não tem? No caso dos Arcos de modo algum se pode atribuir as responsabilidades aos dirigentes do nosso partido.
Pensa friamente e verás que o que te digo é razoável.
O protegido da esposa do Presidente da República está agora no hospital e pelo memorial junto verás o que é necessário.
O Bernardino caiu vergonhosamente. Foi a falência completa da cordialidade. Um Fiasco!
Hoje há noite temos reunião do directório, onde alguma coisa se deverá ficar sabendo. Do que houver, amanhã mando-te dizer.
Se tivermos preponderância no governo, como parece certo, quem deverá ser governador civil de Viana?
Diz sobre isto qualquer coisa.

Manda sempre o teu amigo

Luís Ramos Pereira

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quarta-feira, setembro 14, 2005

Carreira Militar

Em 28 de Novembro, Raimundo Meira escreve a seguinte carta a Sá Cardoso em que dá conta das suas preocupações com a carreira militar e anuncia a Sá Cardoso a sua intenção em lhe dar prioridade em relação à carreira política. No entanto dá-lhe conta de como estava o ambiente nos quarteis, em especial no Quartel da Serra do Pilar.

Meu caro Sá Cardoso

Bom foi que as noticias dos conspiradores me poupassem a sensaboria de ter de recusar o convite para Governardor-Civil de Viana.
Agora vou tratar de me habilitar para Major, principiando no próximo Janeiro com a escola de recrutas, e enquanto não for Major, não quero saber mais de politica.
Se o nosso partido estivesse na oposição, ainda lhe prestaria nas próximas eleições o meu fraco préstimo, mas sendo governo, deve vencer, a não ser que as […] continuem a ser de marca maior, o que não será para admirar.
Vi ontem nos jornais a notícia da nomeação do Visconde de Pedralva e já há dias eu tinha falado ao Ramos Pereira no nome do Dr. Damião, mas como essa nomeação é de capital importância para o resultado das eleições, quem tiver de as dirigir, que se manifeste e tome a responsabilidade.
Não recebi carta alguma do Alexandre Braga e peço ao Sá Cardoso para lhe dizer que não perca tempo a escrever-me, bem precioso lhe há de ser, eu estou ciente.
O Camacho está no galarim da oficialidade. Parece que o homem pensa numa Camachada que o leve ao poleiro, e para isso a ”luta” continua a ser distribuída pelos quartéis, a oficiais e sargentos, com a promessa de não irmos para a guerra …se o Camacho for governo. Chegamos a isto e já se começa a admitir a hipótese que talvez seja preciso restaurar a Monarquia para salvar o país das mãos de tais republicanos (escrito em cima de rasura de “Bandidos”).

Um abraço, do teu grande amigo
Raimundo

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quarta-feira, setembro 07, 2005

O Nobre Anti-Clerical

A 18 de Novembro de 1914, Aleixo? De Santa Eulália, um adesivo, escreve a Raimundo Meira, numa carta com o Timbre do Paço da Glória de Ponte de Lima, uma carta a queixar-se dos ataques pessoais que um Padre lhe fazia.

Mui prezado Raimundo
Muito me obsequiaras se pedisses ao Germano, Dr. Advogado nos Arcos que se interesse por mim e não por um malvado Padre – nojento – que por insi-nuações procura, quer fora da Igreja – quer nas práticas da Igreja – falar con-tra mim, mantendo-se secretário da Junta da Madalena, na minha frequesia a fabricar falsidades. Tudo contra mim e tudo devido ao facto de não lhe ter emprestado dinheiro como ele me pediu numa onsolvente carta.
Tu faz ver ao Germano que ele terá mais seriedade e caracter na minha pessoa que num bandalho d’um padreca – que se trata por tu , como ele e à gente de sua confiança.
Desculpe meu caro, mas quem na escolha e depois tem sido dedicado, pode às vezes importunar um dedicado amigo como tu.

Aleixo??? de Santa Eulália

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Fortalecendo Posições

No dia 20 de Outubro, dá-se uma nova revolta monárquica na zona de Mafra. Na reacção republicana que se seguiu, são assaltados os Jornais Monárquicos e independentes. Os republicanos ligados a Afonso Costa aproveitam para fortalecer posições.

Meu caro Meira
Lisboa 15/11/1914

Vou tratar do caso do avenida.
Deve aí procurá-lo o capitão-de-fragata Alfredo Howell para tratar consigo da defesa da República.
A isto devo anos!
Temos de voltar aos velhos tempos antigos, mercê das blandicias com que os monárquicos são tratados.
Estão muito atrevidos e os Republicanos muito abatidos. Não há remédio senão aproximarmo-nos dos nossos militantes, e tratarmos a valer da defesa da república, no caso provável de em breve nos aparecer uma intentona.
Escuso de lhe dizer que pode entender-se com o Howell como se fosse eu próprio quem o procurasse.
Tem lido os artigos do Camacho?
Já viu escrita mais dissolvente?
Meu caro
Um abraço do seu amigo
Sá Cardoso

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Dança de Cadeiras

A 14 de Novembro, Raimundo Meira recebe uma Carta de José de Guimarães, já de volta do seu curto exílio no Brasil e na política activa outra vez. Nesta carta informava sobre a dança de cadeiras no Governo-Civil de Viana do Castelo.

Meu bom amigo

O Ferreira sempre se abotoou com o lugar de secretário do Governo-Civil de Viana.
O lugar de oficial do registo civil estava prometido a um irmão do ministro da instrução, preterindo-se o Dr. Carlos Bacelar, o que é uma patifaria como qualquer outra.
Mas como isto é dos fulanos...
Também vai ser nomeado comissário de policia de Viana o Pina Manique.
Só não há lugares para os que no Distrito se sacrificaram pela Republica. E olhe que tenhoi o palpite de que o Alvaro de Aguiam vai ser corrido como cor-ridos são todos os que prestaram serviços à República. ...
Abraça-o o seu amigo

José de Guimarães

14/11/1914

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