Em Dezembro, o homem de mão de Raimundo Meira, Rodrigo Luciano de Abreu Lima e apoiante de uma das várias facções do Partido Democrático no Alto-Minho, que se digladiavam entre si, escreve duas cartas, sobre as actividades do Governador Civil adjunto, membro de uma facção rival da sua.
Meu caro Amigo
Manter o Antunes como governador civil substituto é impossível! Digo-lhe com a máxima lealdade, com toda a verdade e isenção com que sem-pre tenho procedido. Não se engane. É um homem sem competência e sem senso para estar naquele lugar, sendo os seus actos uma permanente provocação a tudo e a todos. Disse-lhe na minha última carta que convinha manter o actual governador civil*. Ainda agora digo a mesma coisa, caso não venha o Meira ter bom lugar e, como republicano e como homem. O Antunes aproveitando-se da sua ida a Lisboa nomeou mais uma vez o Peixoto para administrador, um homem que tem feito as maiores tropelias. Amanhã lhe escreverei com mais detalhes, mas se eu lhe mereço consideração pela minha dedicação à república acredite que esta situação é perigosíssima para o partido e para a república. É tardíssimo e não tenho tempo para lhe escrever mais hoje
Seu amigo Muito obrigado 18/12/1914 Rodrigo d’ Abreu |
Meu caro amigo
O Formiga* foi ao Porto, ou melhor a Lisboa, e o Antunes estando o Brandão como administrador nomeou imediatamente o Peixoto, meia hora depois. Isto não pode ser. O homem está parvo e anda a colocar a República e o partido numa situação crítica o mais possível! Homens destes não são republicanos, são traidores! Ri-se toda a gente de semelhante comédia. Quando atenderem os que lhes digo, têm isto tudo em Cavacos! O Formiga não pediu, ou antes, não recebeu ainda a demissão e o ministro dera-lhe apenas licença para ir a Lisboa. Como lhe disse, convém que ele fique, senão vem para cá o meu amigo. Disse-me que ainda não sabia se ficaria ou não, mas que não lhe desagradava ficar, se não pusessem condições impossíveis de aceitar. O que lhe disse nas outras cartas prevalece. O homem, a vir um de novo serve bem. É frio, é sério e é republicano. Esta situação é que não se pode manter, Garantir-lhe; se a minha consciência não me impusesse como um dever, estar do lado da república, eu abandonaria tudo isto, porque no meio de tamanha desorientação vive-se em constante mal-estar. Peço-lhe que com urgência escreva para Lisboa pedindo remédio para estas coisas. Tirem o Antunes de Governador Civil para bem da República e honra de todos nós. O momento é de grande melindre para a nação e por todos os motivos preciso se torna não permitir coisas destas. A indignação é geral.
Um Abraço do
Rodrigo de Abreu |
* Formiga – O Governador Civil, Guilherme Rodrigues, que ocupou o cargo entre Setembro e Dezembro de 1914Etiquetas: Rodrigo de Abreu Lima