domingo, setembro 18, 2005

Cunha presidencial

Em 5 de Dezembro, (Dia em que Bernardino Machado apresenta a demissão) Ramos Pereira escreve, da provedoria central da assistência de Lisboa a seguinte carta a Raimundo Meira. Nesta carta, Ramos Pereira tenta demover Raimundo Meira de abandonar o controlo da política no distrito de Viana do Castelo enquanto aproveita para dar indicações para uma cunha pedida pela mulher do Presidente da República, Manuel de Arriaga.

5/XII/1914

Meu caro Meira

Desculpa só hoje responder às tuas cartas, o que é devido a ter andado com um ataque de gripe que me tem acamado.
Vi a carta que escreveste a Germano Martins* e tenho a afirmar-te categoricamente que o Afonso não tem responsabilidade alguma na colocação do Faria de Lima nos Arcos o que é somente devido ao Ministro da Justiça*, hoje demissionário.
Por isto julgo que todos nas nos devemos conservar unidos mais do que nunca, na esperança de se poder, senão emendar o mal feito, pelo menos remediá-lo, atenuando as suas consequências.
Tu não podes nem deves no momento actual abandonar a vida activa do partido no nosso distrito, pois que tens atribuídas à tua individualidade politica responsabilidades que de modo algum te podem consentir tal resolução.
Contrariedades quem as não tem? No caso dos Arcos de modo algum se pode atribuir as responsabilidades aos dirigentes do nosso partido.
Pensa friamente e verás que o que te digo é razoável.
O protegido da esposa do Presidente da República está agora no hospital e pelo memorial junto verás o que é necessário.
O Bernardino caiu vergonhosamente. Foi a falência completa da cordialidade. Um Fiasco!
Hoje há noite temos reunião do directório, onde alguma coisa se deverá ficar sabendo. Do que houver, amanhã mando-te dizer.
Se tivermos preponderância no governo, como parece certo, quem deverá ser governador civil de Viana?
Diz sobre isto qualquer coisa.

Manda sempre o teu amigo

Luís Ramos Pereira

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