quarta-feira, agosto 03, 2005

Um Democrático perseguido por … Democráticos

José de Sousa Guimarães, oficial médico miliciano dos Arcos de Valdevez (Ver cartas de Manuel Joaquim Lourenço e Queiróz Vaz Guedes) acusado de tentativa de homicidio involuntário, fruto de uma discussão política com um carpinteiro, demite-se do Exército a 15 de Junho e foge para o Brasil no Paquete Britânico R.M.S. Orduña.
Guimarães, republicano até à raiz dos cabelos, tem de fugir do país devido à perseguição que lhe é imposta pelos seus proprios correligionários, e encontra-se dentro de um navio carregado de refugiados... monárquicos, que fogem por sua vez fogem às perseguições republicanas dos aliados e inimigos de Guimarães.
Apesar de perseguido, José Guimarães roga por uma colocação em São Tomé e Príncipe, pois de acordo com as suas próprias palavras:
"Antes na Africa entre negros que no Brasil entre Talassas ..."

A bordo do Orduña 20/06/1914

Meu querido amigo

Principiam a turvar-se-me os ares...
Encontro-me a bordo com um grupo bastante numeroso de Portugueses, quasi todos talassas até à raiz do sabugo.
Ontem ao ouvir incomensuráveis patacoadas, insultos à república e ao Dr. Afonso Costa, perdi as estribeiras e disse-lhes duas das minhas. Vá lá o homem ter mão nos nervos e meter uma rolha na boca!
Quer me parecer que não aguento no balanço com semelhantes esmolas à parva. Escrevi ao Damião para Caminha e vou-lhe escrever também para a câmara dos Deputados. Quem dera que ele arranjasse o tal lugar em São Tomé! O médico António Guerra que de lá veio nada sofreu com o clima, que é suportável no interior da ilha onde ele esteve.
Veja o meu bom amigo se, por intermádio do ministro dos estrangeiros, posso conseguir esse lugar que é de rendimento certo. O ministro é da intimidade do Marquêz de Vale-Flor, e com o ministro deve se dar o Major Sá Cardoso ou outro qualquer dos seus amigos.
Oxalá que eu chegasse ao Rio e tivesse lá um telegrama a mandar-me regressar!
Se o meu bom amigo tivr qualquer coisa a dizer-me pode escrever para a Rua do Barão de Itapagiripe, 408 – Rio de Janeiro.
Peço-lhe este favor pelas criancinhas que deixei no alto minho.
Antes na Africa entre negros que no Brasil entre Talassas de miolos de granito a quem diariamente vou ouvir canalhices contra a republica e contra o meu partido.
Afectuosos cumprimentos à sua excelentíssima esposa e um grande abraço do
J. Guimarães

PS: A Lista que aqui lhe deixo dos amigos dos arcos a quem pode auxiliar em qualquer pretensão é contituída pelos seguintes indivíduos:
António Ramos
José Galvão
Simão Santana da Rocha
António Luis de Amorim
José de Barros Lima
Joaquim Manuel de Araújo
José Manuel de Brito Dantas
Há outros que o meu bom amigo conhece,
JG