terça-feira, agosto 02, 2005

Caciques Minhotos

A segunda metade do ano de 1914, foi prolífica em lutas partidárias, mas ao contrário do resto do país, em que estas lutas se realizavam entre os três grandes partidos do regime, no distrito de Viana do Castelo a violência imperava dentro do Parido Democrático, onde em cada concelho existiam várias facções que se digladiavam entre si, chegando a ocorrer combates de rua, tentativas de assassinato, panfletos anónimos e assinados. Em suma poucos poleiros para tantos galos. Raimundo Meira, a eminência parda do poder democrático em Viana do Castelo a tudo assistia da Serra do Pilar, mais preocupado com a sua carreira militar que com a sua carreira política.
A sua condição de eminência parda permitia-lhe ser o único dirigente que os caciques concelhios reconheciam pelo que em Vila Nova de Gaia tinha uma visão profunda do que se passava no terreno.
Em 15 de Julho de 1914, o seu homem de mão, Rodrigo Luciano de Abreu Lima, escreve-lhe a dar conta do acto eleitoral em Ponte de Lima que ocorreu para o lugar de deputado que Manuel de Oliveira, portador duma doença fatal, colocou à disposição.

Meu caro amigo

Cheguei hoje de Ponte de Lima. Aquilo está fraca coisa. Os partidos monárquicos votaram todos contra o Oliveira proclamando aos quatro ventos que aquilo significava uma parada monárquica e era uma demonstração de força. Os Abreus Coutinhos, pai e tio do deputado não auxiliaram o Oliveira. O Pai ficou em casa sem pedir um único voto a favor, arranjando alguns por baixa – não contra.
O Tio andou na sua, foi ele mesmo à urna com os filhos todos! Os evolucionistas não votaram a não ser nos seus, que o fizeram por questões particulares, como fosse hostilidade ao Ramalho.
O Lemos não votou e condena o facto que crimina de uma infame manipulação monárquica.
Quanto à reunião vai ser feita por estes dias e vamos amanhã fazer os convites,
O Oliveira diz que não será bom dar já a cadeira do deputado sem primeiro ouvir o Directório, bem como sem ver mais uns dias no que param as modas. Deixando pouco um lugar em aberto p´ro que der e vier. Diz que acha magni-fica a conquista do Luciano. Eu chego aí no dia 17 à tarde ou no dia 18 de manhã para o congresso.
À noite escrevo mais circunstanciadamente.
O Oliveira está muito chocado com tudo aquilo. É gente sem dignidade e pode de um momento para o outro como vingança, passar para o partido contrário, apesar das suas afirmações de ferrenhos monárquicos.

Seu amigo certo

Rodrigo de Abreu

PS: O pobre do Guimarães lá foi hoje para o Brasil!
È o que me espera! Se lá me deixarem chegar os Talassas ...
Os monárquicos dizem que não vão à urnas nas eleições e pedem para ficar em casa