sexta-feira, janeiro 07, 2005

Olha o Boné!


De 24 a 28 de Maio de 1913, teve lugar o Roubo do boné! Ou o Olha o boné! Conflito que se travou, em 1º lugar, entre os estudantes e a polícia, depois entre os estudantes e os futricas e, finalmente, entre os estudantes e a Guarda Nacional Republicana.
Tudo começou quando a policia, às ordens do comissário Floro Henriques, agrediu académicos, que se defenderam, no Teatro Avenida, num espectáculo efectuado na noite de Sábado, 24 de Maio.
Na tarde de 28 de Maio veio a dar-se o acontecimento que havia de designar este grave conflito de Maio de 1913.
Sucedeu que o tenente que comandava a G.N.R. foi almoçar a um restaurante da Alta, deixando o boné da farda pendurado num bengaleiro. O estudante madeirense Sebastião Fernandes não esteve com meias medidas e, sub-repticiamente, apoderou-se do dito boné, conquista de que teve conhecimento imediato a Academia.
Foi o delírio! Por toda a noite do dia 28, e no da seguinte, Quinta-feira, os apupos e as troças dos estudantes à G.N.R. choveram por todos os lados. Os gritos de Olha o boné! Oh, Floro, dá o boné ao tenente! Dá cá o boné! Ecoaram por toda a cidade, para gáudio e vingança dos estudantes.
Na Quinta, 29 todos os estudantes presos foram enviados ao tribunal e após terem sido lavrados termos de identificação, postos em liberdade.
Na Sexta-feira, apareceu afixada "A canção do Boné"
A canção do boné

O tal tenente da guarda
Nem já pensa no banzé,
Anda a ver se deita a garra
Ao larápio do boné.

Ó Floro, ó comissário
Não sejas tão inclemente,
Entrega o boné roubado
Ao desgraçado tenente.

E durante muitos anos, os académicos festejaram a data de 27 de Maio, festejos que, posteriormente, se confundiram com a Queima das Fitas, cujo cortejo de carros e queima do grelo decorriam sempre naquele dia.
A ACADEMIA DE COIMBRA (1537-1990) – Lamy, Alberto de Sousa, Rei dos Livros, 1990 –
Texto amavelmente enviado pelo Almocreve das Petas