segunda-feira, janeiro 03, 2005

A Crise Coimbrã

O seguinte texto, dividido em dois postais é retirado do Livro "A ACADEMIA DE COIMBRA (1537-1990)" de Alberto de Sousa Lamy editado pela Rei dos Livros em 1990, o qual foi gentilmente enviado pelo Almocreve das Petas.
A 22 de Março de 1911, foram criadas as Universidades de Lisboa e do Porto, o que se traduziu, na prática, à transformação em Universidades das Escolas Politécni­cas daquelas duas cidades.
A criação das novas Universidades, grande golpe dado na Universidade de Coimbra, descontentou o comércio desta cidade e não satisfez, plenamente, a totalidade dos estu­dantes, pois uma grande parte deles exigia o desdobramento da Faculdade de Direito.
Em Abril, mais de 400 académicos assinam um manifesto pedindo esse desdobra­mento e atacando o dr. António José de Almeida; em Outubro é distribuído outro manifesto, do Grupo dos Estudantes Revolucionários de Coimbra, no mesmo sentido.
Iniciou-se imediatamente uma reacção, organizada, veemente, em que entrava uma grande parte da Academia, lentes, comerciantes, industriais, proprietários, futricas, a população de Coimbra quase em peso, contra a campanha do desdobramento, que iria provocar a ruína da Universidade, da cidade inteira, dos milhares de pessoas que viviam à custa dos estudantes.
E um manifesto enérgico apareceu, espalhado por toda a parte e por toda a parte discutidíssimo, como tudo o que em Coimbra interessa a opinião académica. O mani­festo chamava aos que protestavam contra o exclusivo do ensino de Direito na Univer­sidade um grupo de degenerados com criminosas intenções, que, odiando Coimbra, preten­dem o seu completo aniquilamento. Terminava com vivas à Pátria, à República, à Universidade de Coimbra e abaixo os traidores! A excitação era crescente; temia-se a cada momento um conflito gravíssimo. Um grupo mais exaltado fizera à Porta Férrea um auto de fé, em que a Desafronta, o livro máximo da revolta, até ali o guia da Acade­mia liberal, foi queimado ostensivamente, no meio de gritos, de morras e de vaias ao autor, a quem acusavam de traição e era agora o ministro do Interior da República nascente - António José de Almeida.