quarta-feira, agosto 24, 2005

Desalento

As lutas internas no Partido Democrático traziam o desalento Às suas hostes. A ele se refere Rodrigo de Abreu Lima na carta que escreveu a Raimundo Meira em 26 de Agosto de 1914.

Meu caro Meira

A sua carta última acabrunhou-me um pouco porque francamente é muito triste ver esse desalento nas pessoas que no meio deste bacanal político conseguem aguentar-se de cabeça erguido. O meu amigo pertence a esse número.
Ninguém mais do que eu, tanto muitos, tem sido coberto de desgostos e contrariedades mas não vejo bem assistir-me
Á possibilidade de me por já de parte. Tenho tido nos últimos tempos as maiores contrariedades por a situação política aqui, mas não surpresas, porque sempre previ um conflito grave.
Ainda que me não queiram ouvir, tenho para mim a plena certeza de que tudo isto parte simplesmente dum único ponto, de um único erro em que nos temos deixar de cair.
Colocar o Antunes e o Peixoto em dois lugares de preponderância e para cujo exercício não é a melhor altura. Sempre disse isto e assim é, acredite.
Têm feito as maiores vergonhas, tão grandes que não só envergonham o partido, mas também a república.
Duma ignorância atroz, duma estupidez flagrante criaram uma situação insustentável. Querem remediar isto? Não os expulsem do partido, que ninguém tem esse direito, mas ponham-nos na posição que lhes compete.
Pensa-se numa reunião partidária com representantes de todos os concelhos, para essa reunião ser nomeado de comum acordo um dirigente! De tudo isto será o único remédio.
Esse dirigente só pode ser um, embora outros o auxiliem.
Saber quem é? Pense meio segundo imparcialmente e já o descobre.
Se esse não quiser e entender que tudo isto já não vale mais um sacrifício, então da minha parte e de muitos outros só nos resta ir para casa.
O Luís Filipe ficou de ir aí amanhã.
Muito obrigado por todas as suas referências.

Um grande abraço muito amigo do

Rodrigo de Abreu

26/8/1914

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