As lutas internas no Partido Democrático traziam o desalento Às suas hostes. A ele se refere Rodrigo de Abreu Lima na carta que escreveu a Raimundo Meira em 26 de Agosto de 1914.
Meu caro Meira
A sua carta última acabrunhou-me um pouco porque francamente é muito triste ver esse desalento nas pessoas que no meio deste bacanal político conseguem aguentar-se de cabeça erguido. O meu amigo pertence a esse número. Ninguém mais do que eu, tanto muitos, tem sido coberto de desgostos e contrariedades mas não vejo bem assistir-me Á possibilidade de me por já de parte. Tenho tido nos últimos tempos as maiores contrariedades por a situação política aqui, mas não surpresas, porque sempre previ um conflito grave. Ainda que me não queiram ouvir, tenho para mim a plena certeza de que tudo isto parte simplesmente dum único ponto, de um único erro em que nos temos deixar de cair. Colocar o Antunes e o Peixoto em dois lugares de preponderância e para cujo exercício não é a melhor altura. Sempre disse isto e assim é, acredite. Têm feito as maiores vergonhas, tão grandes que não só envergonham o partido, mas também a república. Duma ignorância atroz, duma estupidez flagrante criaram uma situação insustentável. Querem remediar isto? Não os expulsem do partido, que ninguém tem esse direito, mas ponham-nos na posição que lhes compete. Pensa-se numa reunião partidária com representantes de todos os concelhos, para essa reunião ser nomeado de comum acordo um dirigente! De tudo isto será o único remédio. Esse dirigente só pode ser um, embora outros o auxiliem. Saber quem é? Pense meio segundo imparcialmente e já o descobre. Se esse não quiser e entender que tudo isto já não vale mais um sacrifício, então da minha parte e de muitos outros só nos resta ir para casa. O Luís Filipe ficou de ir aí amanhã. Muito obrigado por todas as suas referências.
Um grande abraço muito amigo do
Rodrigo de Abreu
26/8/1914 |
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