Em 15 de Março, Simas Machado recebe mais uma carta de Luís Mesquita de Carvalho, no meio da "barafunda" política em que o país se encontra, a “cunha” para o lugar de Barcelos continua a ser uma preocupação para Simas Machado.
Meu Caro Simas
Obrigado pela amabilidade do seu telegrama; infelizmente não pode você servir-me desta vez. Não suponha que me esqueci do seu pedido acerca do Dr. Porfírio, de Barcelos. Simplesmente ele veio encontrar-me de cama, onde estive quatro dias com forte dose de gripe. Hoje que já pude levantar-me, procurei falar ao Afonso de Mello (Chefe de Gabinete) pelo telefone; mas, em resposta, informam-me neste momento que ele não está em Lisboa. Se amanhã já me puder levantar (o que não creio) procurá-lo-ei pessoalmente; no caso contrário, voltarei a insistir pelo telefone. De política nem me anima a falar-lhe. Isto está sendo uma barafunda em que nem o diabo se entende. A atitude do governo é um tanto enigmática e a gente não sabe bem para onde caminha. A ver vamos se isto tomará uma orientação mais firme e decidida. Na minha opinião, não há dúvida que o governo pensa e procura amarfanhar os democráticos; mas onde para mim existe a grande incógnita é em saber se procura auxiliar-nos a nós ou fazer política. Se assim for, resultará no futuro congresso para as direitas um gachis mil vezes pior do que o anterior, de que só poderão sair governos a viverem à mercê de apoios traiçoeiros, sem força própria, sem hegemonia partidária, sem programa definido de reformas: uma embrulhada de lutas de grupelhos e de ambições pessoais, de que afinal resultará cada vez maior o enfraquecimento da Republica e sua lenta agonia. Deus super omnia. Mas mal irá a inspiração divina se os homens não conseguem entender-se e … ter juízo. Abraça-o o seu amigo dedicado e obrigado
Mesquita Carvalho Lisboa. 15/3/1915
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