sexta-feira, janeiro 18, 2008

Uma cunha no meio da "barafunda"

Em 15 de Março, Simas Machado recebe mais uma carta de Luís Mesquita de Carvalho, no meio da "barafunda" política em que o país se encontra, a “cunha” para o lugar de Barcelos continua a ser uma preocupação para Simas Machado.

Meu Caro Simas

Obrigado pela amabilidade do seu telegrama; infelizmente não pode você servir-me desta vez.
Não suponha que me esqueci do seu pedido acerca do Dr. Porfírio, de Barcelos. Simplesmente ele veio encontrar-me de cama, onde estive quatro dias com forte dose de gripe. Hoje que já pude levantar-me, procurei falar ao Afonso de Mello (Chefe de Gabinete) pelo telefone; mas, em resposta, informam-me neste momento que ele não está em Lisboa. Se amanhã já me puder levantar (o que não creio) procurá-lo-ei pessoalmente; no caso contrário, voltarei a insistir pelo telefone.
De política nem me anima a falar-lhe. Isto está sendo uma barafunda em que nem o diabo se entende. A atitude do governo é um tanto enigmática e a gente não sabe bem para onde caminha. A ver vamos se isto tomará uma orientação mais firme e decidida. Na minha opinião, não há dúvida que o governo pensa e procura amarfanhar os democráticos; mas onde para mim existe a grande incógnita é em saber se procura auxiliar-nos a nós ou fazer política. Se assim for, resultará no futuro congresso para as direitas um gachis mil vezes pior do que o anterior, de que só poderão sair governos a viverem à mercê de apoios traiçoeiros, sem força própria, sem hegemonia partidária, sem programa definido de reformas: uma embrulhada de lutas de grupelhos e de ambições pessoais, de que afinal resultará cada vez maior o enfraquecimento da Republica e sua lenta agonia.
Deus super omnia. Mas mal irá a inspiração divina se os homens não conseguem entender-se e … ter juízo.
Abraça-o o seu amigo dedicado e obrigado

Mesquita Carvalho
Lisboa. 15/3/1915

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