terça-feira, abril 17, 2007

Preparando o golpe

No dia seguinte Sá Cardoso relata a Raimundo Meira o ambiente que se vive na capital, onde impera o ódio aos Democráticos. Dois meses antes do golpe que organizou, Sá Cardoso não deixa transparecer as suas intenções nesta carta.

Lisboa 13/3/1915

Meu caro amigo

Fiquei contentíssimo com o que me conta. Oxalá um dia, eu possa dizer-lhe o mesmo de Lisboa.
Por enquanto isto por cá não está bem. Em verdade pode dizer-se que predomina o ódio aos democráticos e que, a isto, tudo se […], opiniões, República, tudo enfim.
Em Lisboa só há, por assim dizer, democráticos e anti-democráticos, estando todos, unionistas, evolucionistas, machadistas e monárquicos unidos contra nós.
Isto faz com que qualquer movimento que aqui se tentam agora tirem todo o carácter partidário, o que não convém nem mesmo ao partido que possa defender a República e os seus interesses.
Para mim, tenho por certo que isto não acabe bem. As perseguições são constantes aos republicanos e não só aos democráticos, havendo blandicias para os monárquicos, que são afinal, quem manda no Ministério da Guerra.
Temos de deixar passar a opinião para então aqui e deixar desde já preparadas as coisas para pararmos o grande golpe que se está a preparar na sombra.
A República não morrerá porque tem o povo a defendê-la mas tenho a certeza que vai ser minada fortemente pelos monárquicos que habilmente estão a preparar o voto favorável para prepararem a volta do tigre com o amotinamento, ie, queria dizer consentimento do António José e do Camacho.
O que importa é saber, porque de vários pontos me chegam notícias, que fora de Lisboa a atmosfera é democrática.
O caso do empréstimo, este está ao cuidado dos próprios que têm para o despachar. Que deve de estar por um fio se o novo ministro não levantar embaraços
Adeus caro amigo

Sá Cardoso

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