terça-feira, março 04, 2008

Recenseamento a passo de caracol

O recenseamento pela nova lei avançava muito lentamente, pois as câmaras municipais, controladas na sua maioria por elementos afectos ao partido de Afonso Costa, não o estavam a implementar na prática. O motivo disto prendia-se com o facto de que um escrutínio mais alargado iria penalizar fortemente o Partido Democrático, afastando desse modo Afonso Costa do poder.Urgia pois, e por qualquer meio impedir a concessão do direito de voto a todos aqueles que não simpatizavam com os democráticos. Para obstar a este bloqueio o governo de Pimenta de Castro dissolve as câmaras municipais que se opunham à realização do recenseamento. Esta seguinte carta, com uma assinatura desconhecida, mas de um camarada de armas, foi remetida em 18 de Abril de 1915.



Meu Exmo. Amigo

Aqui me conservo, por enquanto, visto ter requerido para ir à junta.
Quero ver, até onde chega a perseguição do Justino, Assis e cia. Limitada.
E, dizem, que fizeram um movimento para que os civis não interferissem na tropa!! Pois eu sei que os meus camaradas todos, embora alguns com pouca vontade, da guarnição fizeram sentir o seu desgosto para o Ministro da Guerra. Logo e concerteza, fará de nós monárquicos e conspiradores.
A isto chegamos.
Resistirei e se chegar o açoite, vir-me-hei embora desta coisa, ainda que a desgraça me bata à Porta.
Isto vai ao fundo e já não há dúvidas.
Hoje, violentamente e sem o mais pequeno pretexto, foi dissolvida a câmara daqui.
Quem mais manda aqui no Distrito é o Manuel Tomás e filho.

Meu caro amigo

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