tag:blogger.com,1999:blog-89268242024-03-13T12:49:42.381+00:00Cartas PortuguesasA 1ª República por correspondênciaLuís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.comBlogger154125tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-55253213610752954582008-07-21T23:14:00.000+01:002008-07-21T23:22:20.434+01:00Atirar a toalha ao chãoAdriano Pimenta escreve no dia 20 de Maio a Simas Machado dando-lhe conta do seu desencanto com a nova situação e não aceitando o convite para ingressar no Partido Evolucionista, optando por retirar-se da vida política.<br /><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="middle"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu amigo<br /><br />Escrevo-lhe sob a impressão dos últimos acontecimentos; e, todavia, com a fria serenidade de absoluta descrença e desencanto. E isto me parece, também, ser ensejo próprio e inadiável de responder à sua carta a definir a minha atitude perante a sua amizade.<br />Tardei em responder-lhe, absorvido com andava em regular coisas íntimas de relativa urgência e forçado, a seguir, a um conveniente repouso por um estado de saúde, que de todo me preocupou.<br />São estes os motivos e não outros, que foram retardando esta carta, que lhe devia; não pensando sequer, que a qualquer equivoco se prestou o meu retraimento. Conhecemo-nos bastante bem para que eu não duvidasse em confiar-lhe, à sua amizade inteligente, qualquer circunstâncias delicadas que me cortavam o empenho de alinhar ao seu lado e ao dos seus amigos se, melhor pensando, outra orientação tomasse. E assim poupei-me a este esforço, que os meus nervos, a esse tempo, mal consentiriam, tanto mais que me pareceu que a minha resposta era apenas formal e cuja demora não podia ferir a susceptibilidade de amigo.<br />Enganei-me, pelo que discretamente me informam e eu depreendo. Esse equívoco deu-se. E se muito lamento pela nossa amizade, ela vem mostrar-me, mais uma vez, quanto me é avessa a política. Nela me sacrifiquei e não ganhando amigos novos, quase corri o risco de perder os antigos.<br />Neste momento, porém, em que nós adivinhamos as dolorosas coisas, que nos perturbam, eu sentiria que um equivoco fosse uma recordação amarga entre nós ambos.<br />Daí esta explicação que lhe devia.<br />Posto isto vou responder à sua carta, correspondendo ao honroso convite que me faz para ingressar no partido evolucionista. E responderei com a lealdade que nos devemos à nossa amizade.<br />Conhece, porque tantas vezes lhe afirmei a minha simpatia pelo partido evolucionista. E disso dei provas, na última fase da minha modesta acção parlamentar, combatendo ao lado dele na defesa da justiça e moralidade republicana. E fi-lo espontaneamente, posto que nem sempre, (vá dito de passagem) lá encontrei a melhor das solidariedades.<br />Era que se harmonizavam com muitos dos meus pontos de vista; e os seus processos distanciavam-se infinitamente de uma democracia brava e inculta de selecção regressiva, que agora tripudia, sem decoro, sobre os farrapos de uma pátria.<br />E porque, quaisquer que fossem as nossas divergências e friezas, eu faço justiça ao Dr. António José de Almeida cujo carácter é para mim garantia segura de que, sob a sua direcção, a República não voltaria a ser a agência de negócios escuros para clientes vorazes. Isto considerei-o eu como fundamental, porque não pode ser outra a orientação da República, que se fez e o país acatou, menos, por considerações de ordem filosófica ou política, do que por uma afirmação moral.<br />Era pois lógico que fosse a esse partido que eu desse toda a minha cooperação, ao lado dos homens. O meu amigo, no dia em que me determinar, por um dever moral, a abandonar o retraimento político em que me isolei.<br />Somente, a minha filiação partidária dependeria da oportunidade que logicamente me imporem o ingresso de novo na política e depois de esclarecidos alguns pontos de vista da acção politica desse partido e que eu considero essenciais. Isso se combinou, como sabe, constando como um simples incidente, fácil de remover, o estado das relações tensas entre mim e o Dr. Almeida. Na refrega política jogamo-nos alguns agravos, sem afectar, creio eu, o carácter de cada um; e entendi sempre que, nestas circunstâncias, os superiores interesses do país e da República sobre elevavam em muito às arranhaduras de vaidades.<br />O rumo que, a seguir, tomavam as coisas políticas, o emaranhou de uma situação cada vez mais complexa em que mal se podia prever a atitude de cada um, retardavam a oportunidade, parecendo mesmo que a minha intervenção na vida do partido seria mais prejudicial que profícua, mercê de possíveis discrepâncias, que no momento eu antevi.<br />Hoje, ante os últimos acontecimentos, no seu duplo aspecto de golpe de estado e de cobardia, eu sinto que para mim desinteresso-me de um regímen cuja agonia ameaça matar a própria. Dizem os papéis que a República está condenada. Pois meu amigo, nunca a via tão próxima do seu fim, ante a repulsa e a antipatia duma opinião que percebe muito bem que a mentira oficial esconde apenas o triunfo efémero de uma demagogia cada vez mais opressiva e tirânica e pressinto que já não é com as reacções internas que nos salvaremos tão cedo do “democratismo”, que em nada escrupulisa.<br />Oxalá que me engane e que a nação por algum dos seus homens de inteligência e carácter possa sacudir, antes de mais desastres, por um repelão da consciência colectiva, a quadrilha que nos infama.<br />Até lá, meu amigo, não estou disposto a pegar no andor do Afonsismo bárbaro e vilão. Porque é dar-lhe alento até o combatê-lo. O que é preciso é isolá-lo, abandonando-o ao impulso da sua incompetência e ambição.<br />Para despertar a consciência pública é necessário que o país fique sozinho e bem em frente do bando democrático, a aparar-lhe os golpes, sem o anteparo das oposições.<br />E quando sentir quanto lhe doe é possível que tome juízo.<br />Voltarei, portanto a ser o que dantes era; um amigo seu, devotado mas sincero e orgulhoso do seu carácter e cioso da sua estima.<br />Á política deu ficar alheio.<br /><br />Abraça-o<br /><br />Seu amigo<br /><br />Adriano Pimenta</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-47114483070876107462008-07-13T21:56:00.000+01:002008-07-13T21:58:01.030+01:00Entregando as Chaves<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A 18 de Maio, Artur Jorge Guimarães escreve a Simas Machado a dar-lhe conta das perseguições de que estava a ser alvo por parte de apoiantes do Partido de Afonso Costa. Alertado por um amigo, o medo foi tão grande que Artur Guimarães foge de casa, demite-se e envia na carta, as chaves do centro republicano evolucionista a Simas Machado.</span><br /></div><table width="550" align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="middle"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Porto, 18/5/1915<br /><br />Meu Exmo. Camarada e prezadíssimo amigo<br /><br />Nos agitados dias que passaram não pude falar-lhe, embora procurasse por várias vezes fazê-lo. Na segunda-feira (17 de Maio) saí para cumprir com as obrigações que estão a meu cargo e julgava poder continuar a minha vida habitual, pois nunca julguei que pudesse ser perseguido por republicanos por pertencer a um partido republicano, que só tem honrado a republica. Porém procurou-me na minha casa pessoa categorizada e chefe revolucionário que me foi pedir para me retirar da minha casa e afastar-me por algum tempo daqui. Estranhei tal pedido e respondi-lhe o que a minha consciência e a minha dignidade me ditavam. Porém, as razões que me expôs convenceram-me a retirar. Não sei ainda ara onde irei, mas antes de partir era meu dever comunicar-lhe o que se passava e dizer-lhe, antes de escrever ao Dr. Almeida, quais as disposições do meu espírito, ante a tremenda catástrofe que abalou tão desgraçado país. Completamente desiludido, perdida toda a fé, julgando mesmo já impossível de realizar o programa do nosso partido, único que poderia dar a felicidade a este povo e assentar em bases sólidas a republica eu resolvera retirar-me completamente da política diante da hecatombe. Retirava-me por julgar inútil, todo o meu esforço por maior que ele pudesse ser. Mas depois de me ver perseguido pelos próprios republicanos a quem eu sempre ajudei quanto pude, não procurando mesmo saber a que partido pertenciam, pois nunca nutri ódio ou desprezo por ninguém, eu julgo que só tenho um caminho a seguir que é o de me retirar completamente de tudo. Assim lho comunico, antes de o fazer a mais ninguém, pela muita estima e consideração que me merece.<br />Peço-lhe o favor de transmitir aos nossos dedicados correligionários as razões expostas e pelas quais não me poderão ver ao seu lado, não esquecendo o Alfredo de Magalhães cujo carácter muito apreciei sempre. Junto remeto duas chaves, sendo uma da porta do centro e a outra da secretária. Muito desejava saber as impressões do meu bom amigo e se tiver um momento disponível pode escrever-me para a minha casa, Avenida do Brasil, 791, porque ficou lá pessoa encarregue de me remeter a correspondência. E disponha sempre do exilado.<br /><br />Do amigo muito dedicado<br />Arthur Jorge Guimarães </span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-23092779901564820172008-07-02T00:26:00.003+01:002008-07-02T00:50:46.161+01:00O novo Governo<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">O Governo indigitado pela junta revolucionária era presidido por João Chagas (1) e era constituído por (2) Magalhães Lima – Instrução; (3) Teixeira Queiroz – Estrangeiros; (4) Fernandes Costa – Marinha; (5) Manuel Monteiro – Fomento; (6) José de Castro – Guerra; (7) Paulo Falcão – Justiça e (8) Barros Queiroz – Finanças.</span><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Governo.JPG" /><br /></div><p class="MsoNormal" style="font-family: arial; text-align: justify;">Apesar de o novo governo ter apenas um ministro oriundo do Partido Democrático (Monteiro) era na realidade totalmente controlado por ele, pois Magalhães Lima, Chagas, Teixeira Queiroz e Falcão eram republicanos históricos desde o tempo da Propaganda e completamente fieis a Afonso Costa. Barros Queirós era Unionista e Fernandes Costa filiado no Partido Evolucionista, participava no governo a título pessoal pois António José de Almeida retirou-lhe a qualidade de representante do partido.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="font-family: arial; text-align: justify;">No entanto João Chagas nunca chegaria a tomar posse. Vindo do Porto no Comboio da noite, Chagas sofreria um atentado no Entroncamento perpetrado pelo Senador João de Freitas que o baleou na cabeça e tórax. Chagas perdeu um olho, mas salvou-se milagrosamente. Para o Senador João de Freitas não houve milagre. Preso pela Guarda Republicana do Entroncamento, foi adequadamente abandonado na sala de espera, onde a Formiga Branca o espancou até à morte.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="font-family: arial; text-align: justify;">Com João Chagas debatendo-se entre a vida e a morte, José de Castro (O decano) assume a presidência do Conselho de Ministros.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="font-family: arial; text-align: justify;">No dia 18 de Maio ocorre a primeira reunião do novo executivo. O jornalista de “A Capital” interpela alguns dos ministros.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="font-family: arial; text-align: justify;">Magalhães Lima afirma que irá pagar os ordenados em atraso e que no ministério irá continuar a “<i style="">obra propagandística do ideal republicano</i>”.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="font-family: arial; text-align: justify;">Manuel Monteiro afirma sinceramente que “<i style="">Vim de Braga sem saber que ia ser encarregado da gerência de uma pasta. Ainda quis furtar-me, mas não pude</i>.”</p><div style="text-align: justify;"> <span style=";font-family:arial;font-size:12;" ><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:arial;">J</span></span><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:arial;">osé de Castro, afirma que o objectivo do governo é “</span><i style="font-family: arial;">Pacificar a família republicana e garantir a todos os cidadãos, o livre exercício dos direitos que a Constituição lhes faculta. […] A nova revolução demonstrou que a República é o regime do povo, que para a defender é capaz de todos os sacrifícios e provou que não é possível a nenhum governo atropelar a Constituição nem desrespeitar as leis. Procederemos de harmonia com a vontade do povo, que é a grande força que nos apoia</i><span style="font-family:arial;">.”</span></span></span><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/14Maio.jpg" /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:arial;">Populares armados (Formiga Branca) festejando a vitória<br />Foto de Anselmo Franco – Arquivo fotográfico da C.M.L.</span></span><br /></div> <p class="MsoNormal" style="font-family: arial; text-align: justify;">José de Castro, falou e o governo cumpriu. No entanto o “Povo” a que ele se refere não é constituído pela grande massa do operariado rural e urbano analfabeto. O “Povo” de José de Castro são os pequenos comerciantes, funcionários públicos menores; a pequena burguesia urbana que compõe as hostes radicais da formiga branca. No dia 14 de Maio foram estes 15 000 homens que pegaram em armas e nas futuras eleições será este “Povo” que irá autorização para votar - 16 000 votos no Partido democrático e quase 7000 nos restantes partidos. Apesar de a taxa oficial de abstenção ser de 40%, apenas votaram 18.6% da população masculina maior de 21 anos.</p><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;font-family:arial;" >Fontes: </span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:arial;">"A República Velha (1910-1917) Ensaio", Valente, Vasco Pulido, Gradiva, Lisboa 1997</span><br /><span style="font-family:arial;">"O Poder e a Guerra 1914-1918", Teixeira, Nuno Severiano, Estampa</span><br /><span style="font-family:arial;">"História Politica de Portugal 1910-1926, Wheeler, Douglas L., Europa-América<br />Jornal "A Capital"<br /></span></span>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-39657119302503705212008-06-24T23:57:00.005+01:002008-06-25T00:15:41.256+01:00Os dias seguintes<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">A pesquisa sobre os dias seguintes à revolução do 14 de Maio está limitada aos recursos online, nomeadamente o Jornal “A Capital”, jornal que, segundo David Ferreira, foi um dos focos onde se preparou a Revolução.</span><br /><span style="font-family:arial;">Esse facto nota-se na leitura do jornal, os seus jornalistas estiveram presentes a bordo do Cruzador Vasco da Gama e do Almirante Reis, de onde relataram os acontecimentos. Os restantes artigos eram perfeitamente laudatórios da nova situação, entremeados de pequenos apontamentos que relatavam a situação nos bancos dos hospitais.</span><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Maio/Marinha.JPG" /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;"><span style="font-family:arial;">À direita, Leote do Rego, em cima Assis Camilo e do lado esquerdo, os Cruzadores Vasco da Gana, Almirante Reis e São Gabriel – Ilustração Portuguesa</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">O repórter que esteve no Vasco da Gama, entrevista um dos chefes da revolução, Leote do Rego, grande apoiante de João Franco, Monárquico a 4 de Outubro e republicano histórico no dia seguinte. Na entrevista Leote revela todo o seu cinismo, característico da sua personalidade “adesiva”, ao descrever o assassinato pela tripulação do anterior comandante do navio, Assis Camilo, quando Leote abordou o navio. “Foi um momento pungente. Era um camarada e um amigo. Foi morto pela tripulação em legitima defesa”</span><br /><br /><span style="font-family:arial;">Mais caricato é o artigo de Brito Camacho publicado na Luta, que “A Capital” dá destaque. Camacho, apoiante de Pimenta de Castro até 24 horas antes da revolta, ataca fortemente o governo que apoiou, chamando de “<span style="font-style: italic;">vaidosos e medíocres</span>” aos seus membros. O alvo da sua “ira” era Guilherme Moreira que apoda de “<span style="font-style: italic;">Criatura de mesquinha inteligência, Republicano de tirar e pôr, como os colarinhos de borracha</span>.”</span><br /><span style="font-family:arial;">Nesse mesmo editorial, Camacho, que tudo tentou para ser ele, e não Pimenta de Castro a ser nomeado Presidente do Conselho, remata cinicamente dizendo que “<span style="font-style: italic;">A União Republicana participaria no novo governo apenas porque o presidente o havia solicitado, pois está muito bem assim, sentimos que a velhice precoce indica-nos que nos devemos afastar para dar lugar aos mais novos, aos sãos e robustos. Nunca tivemos ambições políticas e neste momento quasi nenhuma outra ambição temos senão a de nos apagarmos na sombra de uma honesta mediocridade entregue às predilecções do nosso espírito</span>."</span><br /><span style="font-family:arial;">Brito Camacho, provavelmente o Político republicano com mais ambições, sempre disposto a dar passos maiores que as curtas pernas, que ele e o seu partido dispunham, não escreveu isto a pensar nele.<br />Estes dois últimos parágrafos são directamente dirigidos a <a href="http://cartasportuguesas.blogspot.com/2008/02/almeida-antnio-jos-de-1866-1929.html">António José de Almeida</a>, esse sim com problemas de saúde e precocemente envelhecido, como as cartas de <a href="http://cartasportuguesas.blogspot.com/2007/03/lus-augusto-de-sales-pinto-mesquita-de.html">Luís Mesquita de Carvalho</a> o demonstram, e que permaneceu neutral na disputa de 14 de Maio.</span><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Maio/Panico.JPG" /><br /></div><div style="text-align: center;font-family:arial;"><span style="font-size:78%;">Pânico na Praça do Município – Ilustração Portuguesa</span><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">Sobre tudo o resto o Jornal apenas se limita a descrever que Lisboa está calma, não dando quase relevo às acções da formiga branca.</span><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Maio/Revista.JPG" /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;"><span style="font-family:arial;">Piquete de populares e Marinheiros a revistarem automóveis – Ilustração Portuguesa</span></span><br /></div><br /><span style="font-family:arial;">“A Capital” informa da presença das esquadras Inglesa (Alguns cruzadores) e Espanhola (1 Couraçado e 3 Cruzadores), afirmando que não havia qualquer motivo para a sua presença intimidatória.<br /><br /></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;"><span style="font-size:85%;">NOTA: As fotografias foram obtidas a partir das digitalizações que Mariana Pinheiro fez da sua colecção da Ilustração Portuguesa" as quais podem ser consultadas no seu blogue "<a href="http://revistaantigaportuguesa.blogspot.com/">A Ilustração Portuguesa</a>" e publicadas com sua autorização.</span></span><br /><span style="font-family:arial;"></span></div>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-2745423652179884122008-06-02T13:01:00.003+01:002008-06-02T13:29:30.333+01:00A revolução de 14 de Maio<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">A seguir ao congresso de 4 de Março, os democráticos estabeleceram uma junta revolucionária constituída por José de Freitas Ribeiro (Marinha), Norton de Matos, Álvaro de Castro e Sá Cardoso (Exército) e António Maria da Silva(Maçonaria e Carbonária) para preparar o golpe contra o governo de Pimenta de Castro. Este golpe deveria ser em tudo idêntico ao 5 de Outubro e apoiava-se na Marinha (O Ramo mais favorável aos democráticos) e nas violentas organizações civis (Carbonária e Formiga Branca), uma vez que os apoios do exército eram reduzidos ou de pouca confiança.</span><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Maio/Granada.jpg" /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;">Marinheiros Revoltosos carregam uma peça do cruzador Vasco da Gama - Ilustração Portuguesa</span><br /></div><div style="text-align: justify;">No dia 14 de Maio, a Marinha, Guarda-fiscal, uma parte da Guarda Republicana e 15000 civis armados enquadrados pela Carbonária e formiga branca revoltam-se e ocupam o arsenal da Marinha, onde se apoderam de um grande número de armas. Estas são distribuídas pelos civis. A reacção das tropas fiéis ao governo é tímida e apenas eficaz no primeiro dia. Infantaria 16 ainda cerca o arsenal da Marinha, mas é violentamente bombardeado pelos navios da armada. Artilharia tenta ainda bombardear os navios, mas estes ripostam e arrasam o alto de Santa Catarina. Ao todo crê-se que a revolta de 14 de Maio provocou entre 200 a 500 mortos e mais de 1000 feridos, Até hoje, o 14 de Maio foi a mais violenta revolta que sucedeu em Portugal.<br /></div><div style="text-align: center;"><img style="width: 534px; height: 393px;" src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Maio/Sacardoso.jpg" /><br /><span style="font-size:78%;">Sá Cardoso proclamando o fim do Governo de Pimenta de Castro – Benoliel-Arquivo fotográfico da C.M.L.</span></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">No entanto a maioria dos mortos não ocorreu com os bombardeamentos navais do dia 14, mas sim com as perseguições e ajustes de contas da Carbonária e formiga branca. Entre 14 e 17 de Maio não existiu lei na cidade de Lisboa, o que deu mão livre à carbonária e à formiga branca para realizarem razias, pilhagens e assassinatos dos seus inimigos (+ de 20 policias e vários cadetes da escola de guerra foram sumariamente executados). Tal violência motivou o envio de esquadras de França, Espanha e Inglaterra, e foi apenas a sua presença que acalmou os ânimos e obrigou as novas autoridades a restabelecerem a ordem.</span><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Maio/Formiga2.jpg" /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;">Elementos da Formiga Branca à Porta do Arsenal da Marinha</span><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">Sobre a actuação da Formiga Branca, Afonso Costa tece-lhe um profundo elogio nas Páginas do Jornal “O Mundo” –</span><br /><span style="font-family:arial;">"</span><span style="font-style: italic;font-family:arial;" >A verdade é que a Formiga Branca, como associação ou instituição revolucionária, não existe. A chamada Formiga Branca é apenas o povo que ama a republica, hoje como em 5 de Outubro, e que, por muito a amar, zelosamente a vigia e a defende. O partido republicano português não tem que enjeitar essa formiga branca, porque o partido republicano português tem de ser, e é, um partido popular, no exacto sentido do termo</span><span style="font-family:arial;">"</span></div>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-82883235968000490502008-05-17T20:15:00.002+01:002008-07-13T21:56:09.839+01:00Aquecer a Campanha!<table width="550" align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="middle"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu Exmo. amigo<br /><br />No Domingo (2) realizam-se comícios em todas as capitais de distrito e cidades importantes. Para Viana vai com o delegado do distrito o Dr. Augusto Soares. Para que a manifestação seja imponente, é conveniente que V.Ex.ª, escreva para Viana a recomendar a maior concorrência.<br /><br />Até Breve<br />Abraça-o o dedicado amigo<br /><br />Afonso Costa<br />Lisboa 28/4/1915<br /><br />PS: Convém aquecer a campanha, sobretudo no norte.</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-55011058556562451792008-05-08T09:30:00.002+01:002008-05-08T09:36:33.684+01:00Aquecer a campanha<div align="justify"><span style="font-family:arial;">No mesmo dia, Afonso Costa, escreve a Raimundo Meira, a solicitar a sua intervenção no sentido de tentar obter a maior participação nos comícios do Partido Democrático. A sua carta denota uma certa insegurança nos apoios e é </span><a href="http://cartasportuguesas.blogspot.com/2005/02/preparao-das-eleies.html"><span style="font-family:arial;">bem diferente da que escreveu durante a campanha de 1913, quando era presidente do Conselho de Ministros</span></a><br /></div><table cellspacing="0" cellpadding="2" width="550" align="center" border="1" style="color:black;"><tbody><tr><td style="COLOR: rgb(102,204,255)" align="middle"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="COLOR: rgb(255,255,102);font-size:100%;" >Meu Exmo. amigo<br /><br />No Domingo (2) realizam-se comícios em todas as capitais de distrito e cidades importantes. Para Viana vai com o delegado do distrito o Dr. Augusto Soares. Para que a manifestação seja imponente, é conveniente que V.Ex.ª, escreva para Viana a recomendar a maior concorrência.<br /><br />Até Breve<br />Abraça-o o dedicado amigo<br /><br />Afonso Costa<br />Lisboa 28/4/1915<br /><br />PS: Convém aquecer a campanha, sobretudo no norte.</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-9723095263131599452008-04-23T00:53:00.004+01:002008-04-23T01:09:35.016+01:00Os Nomes<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">Definitivamente sanados os conflitos internos no Porto, António José de Almeida escreve a Simas Machado a pedir nomes para a elaboração da lista de candidatos a Deputado pelo círculo do Porto para o Partido Evolucionista. Entretanto aproveita para dar conta do andamento das amigáveis conversações com Pimenta de Castro.</span><br /></div><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu Exmo. e Prezado amigo<br /><br />Recebi a sua carta que muito agradeço, apresentando-lhe em nome da Junta Central os protestos da nossa satisfação por se terem composto as coisas aí no Porto. Peço-lhe que nunca deixe de vigiar de perto os procedimentos das nossas juntas, que sendo imensamente dedicadas e sempre cheias das melhores intenções, por vezes se deixam arrebatar em demasia.<br />V.Ex.ª, com o seu bom critério e o seu alto prestígio, auxiliado pelos seus colegas da junta distrital, tudo poderá fazer.<br />Peço-lhe o obséquio de mandar dizer, na volta do correio, se possível for, quantos são os membros que o Partido Unionista tem nas comissões administrativas do Porto. Os evolucionistas, creio que são dois: Capitão Artur Jorge e Manuel Granjo*. Também lhe peço o favor de me mandar dizer, e com toda a urgência, quem são os nomes que os nossos correligionários do Porto preferem para meter na lista dos deputados e dos Senadores. Devo ter no Domingo ou na segunda-feira uma conferência que espero que seja definitiva, sobre os assuntos eleitorais, com o Pimenta de Castro.<br />O governo deseja que os nossos nomes entrem na lista com os nomes do governo e eu preciso de estar habilitado com dados o mais positivo possível a entender-me com ele.<br />Aceite os protestos da minha mais alta consideração e amizade.<br /><br />O seu amigo certo e obrigado<br /><br />António José de Almeida<br />28/4/1915</span></span></em></p></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Pimentalmeida.jpg" /><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family: arial; font-size: 85%;">António José de Almeida conferencia com Pimenta de Castro<br />Foto de Benoliel – Arquivo fotográfico da C.M.L.<br /></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-family: arial; font-size: 85%;"></span></span><span style="font-family: arial;">Faltavam 16 dias para a revolução de 14 de Maio de 1915</span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family: arial; font-size: 85%;"></span></span></div></div>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-15907134614492057822008-04-09T00:24:00.002+01:002008-04-09T00:27:33.466+01:00Instruções<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Em 25 de Abril, António José de Almeida escreve a Simas Machado, visivelmente satisfeito por os diversos contratempos surgidos terem sido ultrapassados. Aproveita para lhe dar conta do andamento de conversações com o governo e dá-lhe instruções para a realização de acordos e pedindo-lhe para vigiar a acção das diversas comissões.</span><br /></div><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu Exmo. e Prezado amigo<br /><br />Ainda bem que as nossas juntas emendaram o erro que tinham praticado e que aqui me ia causando certos embaraços, chegando-nos a fazer algum mal.<br />Bem sei que o Governador Civil tem procedido, para com o Partido Evolucionista, de uma maneira quase inqualificável, mas não podíamos, por causa desse cavalheiro e da sua felonia, prejudicar a política geral do Partido.<br />Agradeço-lhe o cuidado que pôs neste assunto e peço-lhe que vigie sempre de perto os actos das nossas juntas, que cheias de patriotismo e de dedicação partidária, se deixam por vezes arrebatar prematura e excessivamente.<br />Ainda nada está assente com o governo sobre a maneira de intervir no acto eleitoral, não porque tenhamos posto embaraço, mas porque o governo ainda não aceitou um plano.<br />Em qualquer hipótese, porém, nós devemos ter sobre os unionistas aí no Porto uma superioridade de dois deputados pelo menos. Levar-lhes a vantagem de um apenas, seria, além de mesquinho, ridículo.<br />Nesse sentido pois, deverá V.Ex.ª, em cujo bom senso temos confiança ilimitada, dirigir qualquer entendimento que se lhe proporcionem, mas sempre com carácter provisório, nada acertando definitivamente sem de aqui ir à opinião da Junta central que se fundamentará combinações que fizer com o governo.<br />Apresento-lhe os protestos da minha mais alta consideração e desejando-lhe a melhor saúde<br /><br />António José de Almeida<br />25/4/1915</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-44540067490524256912008-03-29T11:34:00.004+00:002008-03-29T11:59:32.343+00:00O Congresso Evolucionista III - Vãs palavras<div align="justify"><a href="http://cartasportuguesas.blogspot.com/2007/03/lus-augusto-de-sales-pinto-mesquita-de.html"><span style="font-family:arial;">Luís Mesquita Carvalho</span></a><span style="font-family:arial;"> ataca fortemente Afonso Costa e Brito Camacho, que acusa de conspirarem para a destruição do Partido Evolucionista e recusa qualquer entendimento com eles pois segundo Mesquita Carvalho, o Partido Evolucionista está prestes a assumir o poder.<br /><br />Sempre que </span><a href="http://cartasportuguesas.blogspot.com/2008/02/almeida-antnio-jos-de-1866-1929.html"><span style="font-family:arial;">António José de Almeida</span></a><span style="font-family:arial;"> usa da palavra, apenas o consegue fazer após longos minutos de efusivos aplausos. No seu discurso final, e certamente arrebatado pela audiência. António José afirma que “ O Partido Evolucionista é uma agremiação política, mas também é uma religião.” Continua o seu discurso atacando sem dói nem piedade Afonso Costa e Brito Camacho e termina com dificuldade os seu discurso, devido aos aplausos dos assistentes propondo uma moção de apoio a Pimenta de Castro, a qual foi aprovada por unanimidade.<br /></span></div><p align="center"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Mocao.JPG" /></p><div align="justify"><span style="font-family:arial;">Mas no Portugal de 1915 as convicções eram mais voláteis que a gasolina, e estas belas palavras de apoio a Pimenta de Castro, “<strong><em>firmeza</em></strong>”, “<strong><em>ardor</em></strong>”, “<strong><em>convicção plena</em></strong>”, “<strong><em>missão patriótica</em></strong>”, não eram mais que meras “Palavras”. E um mês mais tarde serviriam mesmo para, atabalhoadamente, os evolucionistas darem o dito pelo não dito, apoiarem a revolução de 14 de Maio, e a tentarem um entendimento com aqueles que, de acordo com Mesquita Carvalho, conspiravam para a destruição do Partido. </span></div>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-81144874478017488512008-03-25T23:10:00.005+00:002008-03-29T11:59:56.319+00:00O Congresso Evolucionista II - António José discursa<div style="TEXT-ALIGN: center"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/AJAdiscursando.jpg" width="500" /><br /></div><div style="TEXT-ALIGN: center"><span style="font-family:arial;font-size:85%;">António José de Almeida discursando no congresso (Simas Machado está sentado ao centro com a mão a apoiar a face)</span><br /><span style="font-family:arial;font-size:85%;">Foto de Benoliel – Arquivo fotográfico da C.M.L.</span><br /></div><br /><div style="TEXT-ALIGN: justify"><span style="font-family:arial;">Para António José de Almeida a situação que se vivia era transitória e que só havia uma força política capaz de salvar a república – O Partido Evolucionista.</span><br /><span style="font-family:arial;">"Pode o governo estar na ilegalidade, mas esta ilegalidade, tem por fim salvar a Pátria e a República". António José ataca fortemente os Democráticos de Afonso Costa dizendo "<span style="FONT-STYLE: italic">Aqueles que o combatem (O Governo) fazem alarde de uma ilegalidade mentirosa pelas frinchas da qual entram todos os crimes</span>".</span><br /><span style="font-family:arial;">Escreve a Capital que estas palavras foram proferidas com extraordinária violência. Segundo António José, "<span style="FONT-STYLE: italic">Os evolucionistas apoiam o governo, porque á sua frente está um homem honrado e que lhe merece toda a sua confiança</span>". António José termina o discurso propondo Simas Machado para presidente da mesa do congresso, ao qual se segue uma chuva de aplausos que dura vário minutos.<br /><br /><span style="FONT-WEIGHT: bold">O Discurso de Simas Machado</span><br />Simas Machado começa por agradecer a nomeação para presidente da mesa do congresso e explica que a sua decisão em aderir ao Partido Evolucionista foi motivada às opressões e enxovalhos que António José de Almeida foi vítima no Porto.<br />Para Simas Machado o congresso servia para o Partido Evolucionista provar ao país que era um partido de governo.<br />Para Simas, a republica tinha-se transviado e era necessário levá-la para o caminho correcto:<br />- Suavizar a lei de separação;<br />- Modificar a lei do registo civil;<br />- Reformar, em bases sólidas o exército.<br /><br /><span style="font-family:Arial;">Os restantes discursos, para além de mútuos elogios defendem a revogação da Lei da Separação e sua substituição por uma concordata e a Liga Naval propõe uma lei eleitoral no qual o recenseamento fosse o mais alargado possível.</span></span></div>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-24870173816730114662008-03-24T22:35:00.002+00:002008-03-24T22:46:56.014+00:00O Congresso Evolucionista I<div style="text-align: justify;">O congresso realizou-se nos dias 10 e 11 de Abril de 1915. Inicialmente estava previsto para se efectuar no Coliseu da Rua da Palma, mas o proprietário, Conde de Folgosa, não o permitiu, pelo que o congresso foi transferido para o Teatro Politeama.<br /><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Politeama.jpg" /><br /></div></div><br /><div style="text-align: justify;">Noticía o Jornal "<a href="http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/A%20CAPITAL/A%20Capital.HTM">A Capital</a>"<br />Chegam os Marechais do Partido – Mesquita Carvalho, Júlio Martins, Simas Machado, Arnaldo Bigote, Celestino de Almeida, Trindade Coelho assiste ao congresso do primeiro balcão.<br />No "Foyer" vendem-se retratos de António José de Almeida e de … Pimenta da Castro.<br /><br />Diz o mesmo Jornal que Antero de Figueiredo, parece meditar num novo livro, de tão alheio se mostrava ao desenrolar do congresso.<br />A entrada de António José de Almeida no palco, provoca longos minutos de aplausos entusiásticos.<br /></div>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-61628598997257567962008-03-04T01:29:00.004+00:002008-03-04T10:51:55.807+00:00Recenseamento a passo de caracol<div style="TEXT-ALIGN: justify"><span style="font-family:arial;">O recenseamento pela nova lei avançava muito lentamente, pois as câmaras municipais, controladas na sua maioria por elementos afectos ao partido de Afonso Costa, não o estavam a implementar na prática. O motivo disto prendia-se com o facto de que um escrutínio mais alargado iria penalizar fortemente o Partido Democrático, afastando desse modo Afonso Costa do poder.Urgia pois, e por qualquer meio impedir a concessão do direito de voto a todos aqueles que não simpatizavam com os democráticos. Para obstar a este bloqueio o governo de Pimenta de Castro dissolve as câmaras municipais que se opunham à realização do recenseamento. Esta seguinte carta, com uma assinatura desconhecida, mas de um camarada de armas, foi remetida em 18 de Abril de 1915. <table cellspacing="0" cellpadding="2" width="550" align="center" border="1" style="color:black;"><tbody><tr><td style="COLOR: rgb(102,204,255)" align="middle"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="COLOR: rgb(255,255,102);font-size:100%;" ></p><br /><p align="left"><br />Meu Exmo. Amigo<br /><br />Aqui me conservo, por enquanto, visto ter requerido para ir à junta.<br />Quero ver, até onde chega a perseguição do Justino, Assis e cia. Limitada.<br />E, dizem, que fizeram um movimento para que os civis não interferissem na tropa!! Pois eu sei que os meus camaradas todos, embora alguns com pouca vontade, da guarnição fizeram sentir o seu desgosto para o Ministro da Guerra. Logo e concerteza, fará de nós monárquicos e conspiradores.<br />A isto chegamos.<br />Resistirei e se chegar o açoite, vir-me-hei embora desta coisa, ainda que a desgraça me bata à Porta.<br />Isto vai ao fundo e já não há dúvidas.<br />Hoje, violentamente e sem o mais pequeno pretexto, foi dissolvida a câmara daqui.<br />Quem mais manda aqui no Distrito é o Manuel Tomás e filho.<br /><br />Meu caro amigo<br /></p></span></span></em><p></p></td></tr></tbody></table></div></span>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-3077949033411579612008-03-01T00:11:00.001+00:002008-03-01T00:13:25.653+00:00AmuosA organização do congresso não correu de feição a Simas Machado, que em carta escrita a António José de Almeida ponderou não se deslocar a Lisboa. Este, em carta datada de 6 de Abril o tenta demover dessa decisão.<br /><br /><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu prezado Amigo<br /><br />Recebi a sua carta e escrevo-lhe esta para o demover da resolução em que está de não vir ao congresso.<br />É indispensável que V.Ex.ª assista a essa reunião do nosso partido porque se a questão do número é muito importante, a questão da qualidade não o é menos. E o meu amigo ao aumentar a quantidade em mais um, aumenta a qualidade em mais mil.<br />Peço-lhe pois encarecidamente que disponha as suas coisas e apareça cá ainda que não seja senão de passagem.<br />Desculpe a impertinência e creia-me sempre na amizade sincera do seu dedicado amigo<br /><br />António José de Almeida<br /><br />P.S. – peço-lhe que insista junto do Carvalho Mourão e outros amigos de maior relevo para que não faltem<br /></span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-46254984549947688882008-02-08T23:30:00.000+00:002008-02-08T23:34:07.627+00:00Preparando o Congresso Evolucionista<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">No mesmo dia, </span><a style="font-family: arial;" href="http://cartasportuguesas.blogspot.com/2007/03/lus-augusto-de-sales-pinto-mesquita-de.html">Luís Mesquita Carvalho</a><span style="font-family: arial;">, advogado, genro de Guerra Junqueiro e deputado do Partido Evolucionista por Santo Tirso, escreve a Simas Machado dando instruções sobre a preparação do congresso.</span><br /></div><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu Caro Simas<br /><br />Quando recebi a sua carta, estava já publicada no “República” a nota da constituição da Junta Distrital partidária do Porto, o que para todos os efeitos equivale ao seu reconhecimento oficial e o deve ter satisfeito. No entanto, falei com o António José sobre o assunto; dizendo-me de que a demora na aprovação pela Junta Central resultou apenas do seu estado de Saúde e de um novo ataque de gota na mão direita, que o tem em casa há uma semana e o impossibilita absolutamente de escrever.<br />Pelo que respeita ao Miguel de Abreu, compete à comissão organizadora do congresso entender-se com ele; o que fará agora com facilidade, visto ele estar em Lisboa.<br />Não descure o meu amigo no distrito do Porto a representação ao congresso; lembre-se que a sua importância pela numerosa concorrência é para nós, neste momento, politicamente decisiva.<br />E lá nos entenderemos todos animados da mais viva fé para influirmos poderosamente, como convém, nos destinos desta infeliz República.<br /><br />Abraça-o o seu amigo dedicado e obrigado<br /><br />Luís de Mesquita Carvalho<br />Lisboa, 30/3/1915</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-35001700338138052802008-02-05T22:59:00.000+00:002008-02-05T23:06:46.240+00:00Almeida, António José de (1866-1929)<div style="text-align: justify;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/josealmeida.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px;" src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/josealmeida.jpg" alt="" border="0" /></a><span style="font-family: arial;">(Penacova, 18 de Julho de 1866 - Lisboa, 31 de Outubro de 1929).</span> <span style="font-family: arial;">Médico, jornalista e político, 6° Presidente da República Portuguesa, nasceu de uma família de modestos lavradores (José António de Almeida e Maria Rita das Neves e Almeida) que o mandaram estudar a Coimbra, onde se formou (1895). Republicano desde os bancos da escola, viveu intensamente o período do Ultimato (1890), distinguindo-se por um contundente ataque ao rei D. Carlos no jornal académico O Ultimato, que intitulou «Bragança o último» e que lhe valeu a cadeia por três meses. Esteve também implicado na revolta republicana de 1891, mas sem lhe sofrer consequências. Concluído o curso de Medicina, embarcou para São Tomé onde exerceu clínica (1896-1903), se espe¬cializou em doenças tropicais e amealhou uma pequena fortuna que gastaria mais tarde no jornalismo e na política. De regresso à Europa, e depois de um breve estágio em clínicas de Paris (1903-04), abriu consultório em Lisboa, onde se tornou querido de uma vasta clientela popular. </span><br /><span style="font-family: arial;">Ingressando no Partido Republicano Português e, mais tarde, também na Maçonaria e na Carbonária, António José de Almeida depressa se tornou uma das figuras mais conhecidas e prestigiadas do republicanismo, quer pelas suas capacidades como orador impetuoso, agressivo e completamente demagógico. </span><br /><span style="font-family: arial;">Escreveu para vários jornais, sobretudo para A Luta, mas foi no Parlamento (1906-07; 1908-10) e nos comícios dos últimos anos da Monarquia que o seu talento oratório o impôs como caudilho indiscutível, além de o revelar como mestre de arte retórica. Em 1910 fundou a revista Alma Nacional, que dirigiu, e onde colaborou assiduamente até à proclamação da República. </span><br /><span style="font-family: arial;">Conspirador contra a ditadura de João Franco, preso e logo libertado após o Regicídio (1908), participou activamente na preparação do movimento republicano, sendo natural que lhe colhesse parte dos louros como ministro do Interior no Governo Provisório (5-X-1910 a 3-IX-1911) e como deputado (1911-15; 1915-17; 1919). </span><br /><span style="font-family: arial;">Como ministro deveu-se-lhe uma actividade fecunda, sobretudo no campo da Instrução pública. A necessidade da manutenção da ordem numa época difícil e conturbada por toda a espécie de fermentos políticos e sociais valeu-lhe a má vontade de parte das populações de Lisboa e Porto, que o acusaram de traidor e de certa maneira o empurraram para uma posição conservadora que nunca fora a sua. Ainda ministro, fundara e começara a dirigir o jornal República (1911), que se tornou o órgão de combate e de expressão de toda uma camada de republicanos que se opunham a Afonso Costa e às suas tendências radicais. Aí escreveu continuadamente até 1919. Fundou o Partido Republicano Evolucionista (1912), agrupamento heterogéneo e confusamente programado, onde militavam conservadores, extremistas e simples despeitados. Apesar da sua aparente força e da projecção nacional que teve, o Partido justificava-se tão-somente pela figura do seu chefe. Em 1916 reconciliou-se com Afonso Costa e aceitou a presidência de um governo de guerra conhecido como governo da União Sagrada (16-111-1916 a 25-IV-1917), onde também geriu a pasta das Colónias. Abandonando-o mais tarde, continuou porém a apoiar Afonso Costa até ao Sidonismo, que sempre repudiou, ao contrário da maioria dos evolucionistas. </span><br /><span style="font-family: arial;">Em Agosto de 1919, proposto pêlos Partidos Evolucionista e Unionista, mas com o apoio de muitos Democráticos, foi eleito presidente da República, cargo que desempenhou até ao fim do mandato (1919-23), com o aplauso e respeito unânime dos vários agrupamentos políticos e entre escolhos que pareciam insuperáveis. Visitou o Brasil (1922) para tomar parte nas festividades do centenário da Independência, deixando fama quase lendária pelas suas capa¬cidades oratórias. Ainda voltou a ser deputado por Lisboa em 1925 mas depois, doente e prematuramente envelhecido, passou em silêncio literário e político os últimos anos de vida. </span><br /><span style="font-family: arial;">Iniciado maçon por comunicação em 1907 (Álvaro Vaz de Almada), pertenceu à loja Montanha. Foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano em 1929, nunca podendo tomar posse devido ao seu estado de saúde.<br /></span><span style="color: rgb(255, 255, 255); font-family: arial; font-size: 85%;">Ministros e Parlamentares da 1ª Republica - Guinote et al - Lisboa - 1991 - Assembleia da República</span><br /></div>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-29718590056546755252008-02-05T22:49:00.000+00:002008-02-05T22:56:42.623+00:00Entretanto, no campo Evolucionista<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Simas Machado, simpatizante do Partido Evolucionista de António José de Almeida, é eleito presidente da Junta distrital do Porto desta agremiação política. António José, a convalescer de um ataque de gota (Excesso de ácido úrico), escreve-lhe a dar instruções para o congresso próximo.</span><br /></div><br /><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu Ex.mo e prezado amigo<br /><br />A doença não tem permitido que eu lhe escrevesse há mais tempo. V.Ex.ª me desculpará esta falta que tem sido inteiramente involuntária e que eu sou o primeiro a lamentar.<br />A junta Distrital do Porto foi sancionada e com muito prazer pela junta central. Esperamos agora que ela desempenhe as suas funções com o entusiasmo e o ardor próprio dos homens que a compõem entre os quais, com o mais alto prazer para mim, se encontre V.Ex.ª que muito estimo e respeito. Entre os trabalhos mais urgentes que essa junta tem a desempenhar deve contar-se uma grande representação de todo o distrito do Porto ao próximo congresso e que V.Exas. promoverão, tudo em vista que nas localidades onde não houver comissões organizadas nem por isso as diferentes tendências devem deixar de se fazer representar, porque qualquer núcleo de evolucionistas, à face do nosso estatuto tem o direito a enviar delegado.<br />Considero este assunto como muito importante, pois de uma larga e idónea representação do nosso congresso, dependerá em grande parte o nosso sucesso político no meio dos acontecimentos que se estão desenrolando.<br />Espero que V.Ex.ª e por sua parte como membro da junta distrital faça tudo o que puder para que neste momento difícil, mas tão cheio de esperanças para nós, o Partido Evolucionista consiga definitivamente a situação a que tem direito. Muito folgarei também de ver V.Ex.ª no congresso de Lisboa onde a sua alta inteligência e o seu grande critério muito úteis serão à orientação partidária.<br />Desculpe V.Ex.ª não escrever esta carta mais cedo, mas um fortíssimo ataque de gota me impede de escrever há mais de dez dias.<br />Aceite os protestos da minha consideração e da minha mais devota amizade.<br /><br />Afectuosos cumprimentos<br /><br />António José de Almeida<br /><br />30/3/1915</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-4852783917416641712008-01-29T23:40:00.000+00:002008-02-08T23:34:32.348+00:00Apoios a qualquer preço<div style="text-align: justify;"><span style=";font-family:arial;font-size:100%;" >A 23 de Março, <st1:personname productid="Rodrigo de Abreu" st="on">Rodrigo de Abreu</st1:personname>, escreve a Raimundo Meira das diligências que tem vindo a fazer no sentido de granjear mais apoios para o lado republicano.</span></div><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >23/3/1915<br /><br />No correio de hoje seguiram para o directório, registados, os documentos constantes da circular confidencial, os quais requeri à câmara por meu próprio punho. De Coura nada sei por enquanto mas não admira. Estive, como lhe disse com o Manuel Tomás. Não lhe fiz confidências, porque as não faço senão a quem deve ser. O homem diz que os monárquicos não vão às urnas, como também afirmam os mais entendidos. Se forem, diz, têm de perder, se não for a bem é a mal. Eu, diz ele, não sou hoje um político, mas tenho todo o interesse e orgulho em que o nome de meu irmão, que foi sempre republicano, fique ligado à história e só pode ficar salvando a República, pois que a monarquia nunca mais volta. Não tem ligações com partidos e conta com todos os republicanos. Foi a primeira vez que vi aquele homem a falar sem se rir e dizer que dava a sua palavra de honra, que serviria, sem ser político, a República com toda a dedicação. Que estava pronto a receber os republicanos sempre que quisessem e agradecer todos os informes que lhe dessem. A opinião e informe dele é que os monárquicos não vão às urnas, mas são capazes de fazerem qualquer garotice para perturbar, mais nada.<br />Em resumo. O nosso partido poderá sofrer nesta triste conjuntura que atravessa a República, mas os monárquicos ainda desta não vencem.<br />Note, eu declarei ao homem logo de princípio, que era republicano acima de tudo mas filiado num partido, o Democrático, cuja orientação e programa acompanhava. Falou-me em si com as melhores referências.<br />Seria bom vir por cá e abordá-lo também. Em artilharia houve uma festa militar onde oficiais e sargentos fizeram declarações de amor à República. Que pândegos. Pareciam mais republicanos que nós! Estive com o Segismundo.<br /><br />Seu amigo certo<br /><br />Rodrigo de Abreu</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-36611067127990756372008-01-27T23:13:00.000+00:002008-01-27T23:14:53.613+00:00O Pânico aumentaA 18 de Março, Rodrigo de Abreu, informa Raimundo Meira do enorme pânico que grassa em todas as hostes republicanas devido à grande adesão que os monárquicos vêem registando nas suas acções de campanha.<br /><br /><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >18/3/1915, <br />São duas horas da noite e chego a casa onde encontro a sua carta. Vou dar-lhe cumprimentos amanhã e por isso hoje fica pronta com a circular dentro, a carta para Coura dirigida ao A.V. para seguir no primeiro correio.<br />Isto por aqui corre mal se houver eleições. Eu ando a ver se conserto o que posso, mas não vejo as coisas bem.<br />Os evolucionistas de cá estão descontentíssimos e apavorados com as reuniões monárquicas, bem como com as autoridades e o trabalho eleitoral que têm feito. Amanhã vou terminar uma conferência com Manuel Tomás velho, o qual disse que pretendia ouvir-me sobre as questões monárquicas e sobre os regedores, que eu considero conspiradores. O homem deu a sua palavra de honra ao Ferreira Soares que estava resolvido a combater os monárquicos por todos os processos, embora o irmão lho proibisse, (1) pois só assim seria possível fazer alguma coisa e ele desejava servir o irmão que no presente momento tinha o seu nome ligado a uma missão histórica que havia de honrar a sua família. Ele não era republicano, mas que o irmão sempre o foi e havia de servir a República através de tudo, que podia ter a certeza disso. Este homem é um velhaco mas eu não direi senão o que me convém e ficamos a conhecê-lo mais. O Soares ficou surpreendido com a atitude dele, que não o esperava. Eu avisei desta entrevista apenas o Brandão. O Zé de Abreu trabalha com eles incondicionalmente. O António Carvalho da mesma forma. O Martinho Cerqueira e o Conde de Azevedo recolheram ontem a casa depois das duas horas. O Reimão foi procurado pelo Zé Gatuno em Casa. Por a minha parte estarei sempre firme para tudo o que for possível, nada me apavora, nada me altera, no caminho que devo seguir, sempre pela República, enquanto ela precisar e viver. Mande sempre e se puder apareça. Tenho empenho de ir ao congresso. Vamos a ver se o poderei fazer. <br />A questão económica é sempre a dificuldade. Leia no Povo a atitude da Câmara. Para os outros mandei indicações idênticas. Dar-lhe-ei conhecimento das démarches junto do Manuel Tomás.<br /><br />Seu amigo certo<br /><br />Rodrigo de Abreu<br /><br />PS: Dê sempre informes de tudo, pois preciso sempre de estar a par de tudo! Homem prevenido vale por dois …<br />Vai ao Congresso?</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-19990877672010465772008-01-25T00:09:00.000+00:002008-01-25T00:21:05.887+00:00O Pânico democrata<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">Em Março de 1915, os Democráticos de Viana do Castelo estavam em pânico. Viam conspirações em todos os cantos e esquinas. A perspectiva de umas eleições nas quais todos pudessem votar, afigurava-se-lhes uma catástrofe anunciada. A organização e apoio que pela primeira vez os monárquicos demonstravam, estavam a pôr os cabelos em pé aos partidários de Afonso Costa. Em face disto, era necessário prepararem-se para o pior e vigiar de perto as acções monárquicas.</span><br /></div><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Viana, 16/3/1915<br /><br />Meu caro amigo<br /><br />Ontem houve aqui grande reunião monárquica. Nela estiveram vários conspiradores de categoria. Esteve o Zé gatuno, Luís de Magalhães, Conde de Azevedo, Adolfo Pimentel, Reitor de Caminha, Regos de Caminha, Conde Vitorino, Amândio Lisboa, António Carvalho e outros. O Zé gatuno procurou e falou com o Reimão*.<br />O Zé de Abreu de Ponte de Lima mandou dizer que estava com os monárquicos ainda mesmo que pelo distrito propusessem o filho.<br />O assunto que, segundo me informou, foi discutida a questão eleitoral. Resolveram, depois de breve discussão ir às urnas em todos os concelhos onde pudessem ganhar. Onde não fossem disputariam as eleições camarárias e paroquiais.<br />Participei este assunto ao Governador Civil sem entrar em pormenores, porque não confio nele, e só lhe disse isto, que tinham cá estado estes membros, foi apenas para ver o que ele dizia. Continuam, ao mesmo tempo que preparam estas coisas, a conspirar à bruta, aguardando o momento propício para um movimento pela força armada. Veja se decifra esse papel que aí vai a lápis duns apontamentos que tirei à pressa para uso próprio.<br />Eu talvez vá ao Porto brevemente. Por aqui tem nomeado conspiradores para regedores. Já estão dois nomeados, um em Santa Marta outro na Meadela.<br />Não tenho tempo agora para mais. Escreva e conte coisas.<br /><br />Seu amigo certo<br /><br />Rodrigo de Abreu<br /></span></span></em></p></td></tr></tbody></table><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family: arial;">* Malheiro Reimão - Ministro do Governo de João Franco de Castelo Branco</span></span><br /><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Este é o manuscrito referido por Rodrigo de Abreu, provavelmente copiado de um relatório de uma toupeira que actuava dentro da organização monárquica.</span><br /></div><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Dia 4 – Rua formosa, 237- Zé de Azevedo, Joaquim Machado, G. Abreu, P. Torres, Luís Magalhães e Reitor de Caminha – Esperam tumultos por ocasião da Reunião do congresso ou o assassinato de Afonso Costa.<br />Adiamento (das eleições) – Não lhes foram favoráveis as notícias de Lisboa.<br />Nova Reunião no Porto com O. Lima e Abel Martins Pinto dizendo este – é questão de mais uns dias – Paiva continua na Galiza. Padre Domingos continua em Vigo.<br />Dia 6 – Às 16 horas, Hotel Universal, Batalha. Vão aliciados falar com Reitor de Caminha por serem chamados. Recomendam vigiar os quartéis para não serem atacados pelos carbonários. Confirmando-se este assalto aos quartéis, devem participá-lo imediatamente aos dirigentes do Hotel Universal para serem avisados grupos e conjuntamente com a polícia assaltarem casas de republicanos e fazerem a anunciada matança.<br />Dia 8 – Teve uma conferência com D.C. de Menezes.<br />Dia 9 – Reunião no Hotel Universal com Abel Ferreira, Abel Pereira, Reitor de Caminha e Luís de Magalhães. Este diz "<span style="font-style: italic;">A coisa vai bem. O Pimenta de Castro tem quase tudo na ordem</span>".<br /></span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-76317974179214091912008-01-18T23:38:00.000+00:002008-01-18T23:43:37.049+00:00Uma cunha no meio da "barafunda"<p class="MsoNormal" style="font-family: arial; text-align: justify;">Em 15 de Março, Simas Machado recebe mais uma carta de <a href="http://cartasportuguesas.blogspot.com/2007/03/lus-augusto-de-sales-pinto-mesquita-de.html"><st1:personname productid="Luís Mesquita de" st="on">Luís Mesquita de</st1:PersonName> Carvalho</a>, no meio da "barafunda" política em que o país se encontra, a “cunha” para o lugar de Barcelos continua a ser uma preocupação para Simas Machado.</p> <table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu Caro Simas<br /><br />Obrigado pela amabilidade do seu telegrama; infelizmente não pode você servir-me desta vez.<br />Não suponha que me esqueci do seu pedido acerca do Dr. Porfírio, de Barcelos. Simplesmente ele veio encontrar-me de cama, onde estive quatro dias com forte dose de gripe. Hoje que já pude levantar-me, procurei falar ao Afonso de Mello (Chefe de Gabinete) pelo telefone; mas, em resposta, informam-me neste momento que ele não está em Lisboa. Se amanhã já me puder levantar (o que não creio) procurá-lo-ei pessoalmente; no caso contrário, voltarei a insistir pelo telefone.<br />De política nem me anima a falar-lhe. Isto está sendo uma barafunda em que nem o diabo se entende. A atitude do governo é um tanto enigmática e a gente não sabe bem para onde caminha. A ver vamos se isto tomará uma orientação mais firme e decidida. Na minha opinião, não há dúvida que o governo pensa e procura amarfanhar os democráticos; mas onde para mim existe a grande incógnita é em saber se procura auxiliar-nos a nós ou fazer política. Se assim for, resultará no futuro congresso para as direitas um gachis mil vezes pior do que o anterior, de que só poderão sair governos a viverem à mercê de apoios traiçoeiros, sem força própria, sem hegemonia partidária, sem programa definido de reformas: uma embrulhada de lutas de grupelhos e de ambições pessoais, de que afinal resultará cada vez maior o enfraquecimento da Republica e sua lenta agonia.<br />Deus super omnia. Mas mal irá a inspiração divina se os homens não conseguem entender-se e … ter juízo.<br />Abraça-o o seu amigo dedicado e obrigado<br /><br />Mesquita Carvalho<br />Lisboa. 15/3/1915<br /></span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-10127407990305285412008-01-15T22:43:00.000+00:002008-01-15T22:56:04.425+00:00A reacção democrática e a Retracção “Moderada”<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">O Partido Democrático após a publicação da nova lei eleitoral declarou guerra ao governo de Pimenta de Castro.</span><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Parlamento.jpg" /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;"><span style="font-family:arial narrow;">O Presidente do Parlamento (Manuel Monteiro) é informado por um oficial da Guarda da proibição da abertura do Congresso (Foto de Benoliel)</span></span><br /></div> <p style="text-align: justify; font-family: arial;" class="MsoNormal">Estava marcado para o dia 4 de Março uma reunião do Congresso da República (Sessão conjunta das duas câmaras). Nesse dia os deputados e senadores ao chegarem a São Bento viram o edifício cercado por tropas da Guarda Nacional Republica, que impediram o acesso ao interior do Edifício, impossibilitando assim a reunião parlamentar.</p><div face="arial" style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: arial;" class="MsoNormal">Desafiando o governo, Afonso Costa e os seus deputados e senadores, reuniu-se no Palácio da Mitra em São Julião do Tojal, Loures. Acção que os deputados moderados (Unionistas, Evolucionistas e independentes) não secundaram. Mesmo assim o Partido Democrático considerou a reunião como um congresso das duas câmaras mesmo não passando de uma reunião do grupo parlamentar.</p><div style="text-align: center;"><img src="http://cartasportuguesas.do.sapo.pt/fotos/Mitra.jpg" /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:78%;"><span style="font-family:arial narrow;">Reunião dos parlamentares do partido Democrático na Mitra (Foto de Benoliel)</span></span><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">Nesta reunião, e por unanimidade, o governo de Pimenta de Castro foi considerado “fora-da-lei” e os seus actos legislativos foram considerandos “nulos e sem efeito”. Mais ainda, Afonso Costa, no seu discurso compara Pimenta de Castro a João Franco, dizendo que a "ditadura” de Pimenta era pior, mais indigna e mais infame, rematando o seu discurso dizendo “[…] </span><span style="font-style: italic;font-family:arial;" >Não sei que horas sombrias virão, o que sei é que a república vingará</span><span style="font-family:arial;">”. Tal como </span><span style="font-style: italic;font-family:arial;" >Nuno Severiano Teixeira</span><span style="font-family:arial;"> afirma no seu livro “</span><span style="font-style: italic;font-family:arial;" >O Poder e a Guerra 1914-1918</span><span style="font-family:arial;">” - “<span style="font-style: italic;">Se não era o incitamento ao derrube do ditador, era pelo menos uma declaração de guerra à ditadura, que o mesmo era dizer, a ameaça de uma nova revolução</span>”.</span><br /></div><div style="text-align: justify; font-family: arial;">Perante esta ameaça de revolução bastaria a Pimenta de Castro o apoio cada vez mais relutante dos moderados e do exército? Não.<br />Nem os moderados tinham grande poder, nem o exército desejava combater para apoiar Camacho e Almeida, que considerava parte da "<span style="font-style: italic;">Canalha reinante</span>". Por isso Pimenta de Castro voltou-se para outro sector da sociedade que até aí estava legalmente excluído da vida cívica – Os monárquicos.<br />Pimenta de Castro a coberto de uma politica "<span style="font-style: italic;">Nacional</span>" começou a atribuir cargos a monárquicos, incluindo os membros do Integralismo Lusitano. A 20 de Abril publica uma lei da amnistia a todos os monárquicos e levanta a proibição da constituição de centros e partidos monárquicos. Isto enfurece os republicanos, que não admitiam que a republica pudesse tolerar os monárquicos no seu seio. Com a lei eleitoral de Pimenta de Castro, que diluía o voto urbano (Democrático) no voto rural (Monárquico), com os mecanismos de recenseamento nas mãos do governo, que o queria o mais alargado possível, as eleições estariam ganhas à partida pelos monárquicos.<br />Com a amnistia Pimenta de Castro perde o apoio dos moderados, com excepção de Brito Camacho, que como não possuía qualquer poder, optou por permanecer ao lado de Pimenta, bem como Machado dos Santos, este último mais por ódio a Afonso Costa, que por apoio às políticas de Pimenta de Castro.<br /><span style="font-family: arial;"><br />Fontes:<br /><span style="font-size: 85%;"><em>A Republica Velha (1910-1917) Ensaio</em>, Vasco Pulido Valente, Gradiva Publicações Lda. – Lisboa 1997<br /><em>O Poder e a Guerra 1914-1918 – Objectivos nacionais e estratégicos na entrada de Portugal na Grande Guerra</em>, Nuno Severiano Teixeira – Editorial Estampa Lda. - Lisboa 1996<br /><span style="font-style: italic;">História de Portugal - Suplemento</span> - Direcção de Damião Peres, Portucalense Editora - Porto 1954<br /></span></span></div>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-13666520640804269072007-04-23T23:04:00.000+01:002008-01-18T23:44:46.300+00:00Contando espingardas<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:arial;">A 14 de Março Segismundo A. Pereira, militar, escreve a Raimundo Meira a combinar um encontro no Porto. Pela Carta Segismundo informa Raimundo Meira da sua disponibilidade para secundar um possível golpe militar.</span><br /></div><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu caro Meira<br /><br />Há palavras da tua carta anterior à que anteontem recebi que não dei o sentido restrito do seu significado literal, mas antes (conforme fiz ver ao Manuel dos Santos, que foi chamado à barra) dei-lhes uma interpretação de tal modo diferente que sem dúvida nela há de caber ou moldar-se a causa que a mim ou ao Manuel reclama aí. Presumo do que se trata e deve tratar-se. Não surgindo daí qualquer contrariedade irei na próxima Sexta-Feira no comboio-correio da tarde e seguirei para o hotel Aliança onde te esperarei pelas oito e meia.<br />Que não haja desânimo, dizes-me que sim, eu pelo menos não desanimo: antes vibro com franca fé pela República, meu único credo político no passado e no presente, e no futuro se não surgir um certo rei perfeito.<br />Trago sim confrangido o coração com o hiper-desvairamento que se encontram muitos republicanos por causa da organização deste ministério, da sua política, da sua obra, que não sei se tem por objectivo hostilizar o partido democrático, se por bem intencionado reparar erros, ou ainda se, pelo andar que as coisas estão tomando, irritado, azedado, atalassado, preparar a intriga, como por vezes se chega a presumir da República à nação. Seja como for, creio assim a República uma tal situação quer os seus amigos, sobretudo nos meios pequenos, remetem-se humilhados. Mas não ficará por aqui a nova revolução. Se com este ministério a Talassaria concorrer às urnas, neste distrito e no de Braga e por certo nos outros, os republicanos nem talvez apanhem as minorias.<br />Ora tudo isto não fazendo perder a fé numa vida sadia da República, vai no entretanto torturando muito e muito aqueles que não cultivaram o “sport” de atirar à república em vez de atirar à nação, obras que lhe dessem prosperidade e achatassem a talassaria. Agora sem ruído é preciso restabelecer a Republica. Para isso tem o meu franco concurso. Falaremos. Até Sexta-Feira à noite.<br /><br />Teu certo e estimado amigo<br />Viana 14/03/1915<br />Ségis </span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-26971570204589530972007-04-17T23:49:00.000+01:002008-01-18T23:45:08.798+00:00Preparando o golpeNo dia seguinte Sá Cardoso relata a Raimundo Meira o ambiente que se vive na capital, onde impera o ódio aos Democráticos. Dois meses antes do golpe que organizou, Sá Cardoso não deixa transparecer as suas intenções nesta carta.<br /><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Lisboa 13/3/1915<br /><br />Meu caro amigo<br /><br />Fiquei contentíssimo com o que me conta. Oxalá um dia, eu possa dizer-lhe o mesmo de Lisboa.<br />Por enquanto isto por cá não está bem. Em verdade pode dizer-se que predomina o ódio aos democráticos e que, a isto, tudo se […], opiniões, República, tudo enfim.<br />Em Lisboa só há, por assim dizer, democráticos e anti-democráticos, estando todos, unionistas, evolucionistas, machadistas e monárquicos unidos contra nós.<br />Isto faz com que qualquer movimento que aqui se tentam agora tirem todo o carácter partidário, o que não convém nem mesmo ao partido que possa defender a República e os seus interesses.<br />Para mim, tenho por certo que isto não acabe bem. As perseguições são constantes aos republicanos e não só aos democráticos, havendo blandicias para os monárquicos, que são afinal, quem manda no Ministério da Guerra.<br />Temos de deixar passar a opinião para então aqui e deixar desde já preparadas as coisas para pararmos o grande golpe que se está a preparar na sombra.<br />A República não morrerá porque tem o povo a defendê-la mas tenho a certeza que vai ser minada fortemente pelos monárquicos que habilmente estão a preparar o voto favorável para prepararem a volta do tigre com o amotinamento, ie, queria dizer consentimento do António José e do Camacho.<br />O que importa é saber, porque de vários pontos me chegam notícias, que fora de Lisboa a atmosfera é democrática.<br />O caso do empréstimo, este está ao cuidado dos próprios que têm para o despachar. Que deve de estar por um fio se o novo ministro não levantar embaraços<br />Adeus caro amigo<br /><br />Sá Cardoso</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8926824.post-21430602788467573852007-04-08T00:54:00.000+01:002008-01-18T23:45:29.637+00:00Viana ao RubroOs democráticos, por outro lado, estavam extremamente nervosos, pois, ao não possuírem qualquer apoio no governo, estavam a perder o controlo dos governos civis e das administrações de concelhos, conforme podemos ler nesta carta de Rodrigo de Abreu a Raimundo Meira escrita a 12 de Março de 1915.<br /><br /><table align="center" border="1" cellpadding="2" cellspacing="0" width="550" style="color:black;"><tbody><tr><td style="color: rgb(102, 204, 255);" align="center"><p align="justify"><em><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 255, 102);font-size:100%;" >Meu caro Amigo<br /><br />Recebi a sua carta. Eu também tenho trabalhado na defesa da República quanto tenho podido e para mim não há desânimos, nem mesmo na hora de maior perigo. As violências já começaram também por cá. Eu estou envolvido num caso de bombas, acusado por o Esgueira Machado e outros conspiradores da Meadela. Estão a instaurar um processo e falam em buscas. Não tenho nada na minha casa, mas só lá entram à força porque eu não consinto que lá entrem doutro modo enquanto não está no trono o D. Manuel. Já disse ao administrador que trabalho nestes assuntos desde 1904 e não me deixo cair assim à boa nas artimanhas dum parvo como ele e que me vendo caro. Os talassas continuam radiantes e fazem no Domingo a procissão dos Passos. Estão a ser nomeados os regedores entre tudo o que há de mais talassas.<br />São mais covardes. Há dias escreveram uma insolência ao nosso partido por debaixo do telegrama que anunciava a reunião do congresso em Loures. Estava presente o A. Campos, o Sabonete, o General Marques, o Capitão Branco, os filhos e outros. Desafiei-os, chamei-lhes Garotos, disse tudo quanto me veio à cabeça e os tipos rasparam-se sem dar um pio. Disse-lhes que era formiga mas que antes dos talassas me porem um dedo eu havia de fazer virar a algum, as pernas por cima da cabeça – Nem assim!!! Quanto à Câmara mandou a sua adesão e vou reunir a deliberativa que alguma coisa fará também.<br />Entre os requerimentos nossos, evolucionistas e talassas entraram 800 e tantos, mas desses, 300 devem ser deles, dos talassas. Vai-se fazer o protesto contra a entrada dos requerimentos depois do dia 28. Ficou hoje de manhã alguém encarregue disso. Hoje esteve cá o Ramos Pereira e mostra grande empenho que alguém vá daqui à reunião do congresso. Vou hoje ver se se pode conseguir alguma coisa nesse sentido, porque eu, somente á minha custa não posso ir, porque os tempos estão bicudos … Se não for ninguém, delegaremos na gente de Lisboa.<br />O Congresso é muito importante e não se deve dar lá uma impressão de fraqueza que o torne inferior ao da Figueira. Eu queria ir mas talvez não o consiga.<br />Vou mandar a sua carta ao Oliveira. Também me parece que este governo não chega às eleições, mas é preciso estar a pau porque isto não está nada bem. Mande sempre<br /><br />O seu amigo<br /><br />Rodrigo de Abreu<br /><br />12/3/1915</span></span></em></p></td></tr></tbody></table>Luís Bonifáciohttp://www.blogger.com/profile/00810455799274070069noreply@blogger.com0