quarta-feira, julho 13, 2005

Ângelo Alves de Sousa Vaz (1879-1962)

Nasceu em 16 de Fevereiro de 1879 em Lisboa. Formou-se me Medicina em 1902, na Escola Medico-Cirúrgica do Porto, tendo-se especializado em Pediatria. Deputado à Constituinte e entre 1915-1917, foi graças a uma iniciativa legislativa sua, que se criou o Liceu Alexandre Herculano e o Liceu Rodrigues de Freitas (D. Manuel II).
Genro de Bernardino Machado, foi seu secretário durante a visita que este fez à frente de Batalha na Flandres em 1917.
Escreveu vários livros sobre pediatria, saúde escolar e história.

Conversas de rua

Alfredo de Magalhães conta as suas peripécias no Porto, onde tem de fugir de um grupo de Democráticos, e conta as suas suspeitas de que Bernardino Machado se aliou a Afonso Costa.

Meu caro Simas

Perdoe-me por quem é! Tanto contava e desejava estar consigo à hora ajustada, que adiei para amanhã um jantar que tencionava dar hoje no palácio a um amigo recém-chegado do Brasil. Mas depois das aulas fui obrigado a demorar-me em casa de um cliente; e na rua, logo por mal dos meus pecados, encontrei democráticos vários que houveram por bem ferrar-me outras tantas estopadas. Depois desatei a correr, e quando cheguei a São Lázaro a suar como um galego, toquei Ângelo Vaz e tive de fazer nova estação, esta não de todo inútil. Eu falei bastante, ele, o menos que pode. Discreto tal Taillerand… Mas como os grandes homens (mesmo quando pequeninos) em poucas palavras dizem muito…, ali soube abertamente, ou vi confirmado que Bernardino está de alma e coração com Afonso.
Era o que eu dizia ao bom do nosso Pimenta! Aquele jovem deputado é no momento o melhor e mais simples dos barómetros políticos. Não engana um lavrador!
Mas temos muito para desabafar, não é assim? O Adriano, se ainda não chegou deve demorar pouco. Ele se encarregará de nos convocar para trocarmos impressões e dizer-nos as que colhem naquela Lisboa. Agora desejo que me perdoe, repito a involuntária grosseria em que incorri não estando em casa quando você teve a gentileza de visitar-me.
Creia-me sempre

Amigo dedicado

Alfredo Magalhães
31 Julho 1914

segunda-feira, julho 11, 2005

Lutas de caciques

Continuam as lutas internas em Arcos de Valdevez. Em 22 de Maio de 1914, Raimundo Meira, recebe esta carta remetida por Manuel Joaquim Lourenço.

Exmo. Sr. e prezado amigo

O Dr. Carlos Bacelar aceita o cargo de administrador deste concelho. Reside no Concelho dos Arcos e escreve-se para Padreiro – Arcos. É novo, inteligente e penso que é um rapaz aproveitável para a política.
Aí vai um papelucho que fez gáudio no meio adverso ao Guimarães. Assina-o um Soares, irmão do Soares das bombas, bacharel em Teologia e solicitador e um borrachinho de profissão. É gente levada de mil demónios!
Ficou resolvido o caso Álvaro Aguiam? Eu não quero ter interferência nas coisas dos Arcos e conto-as a V. Exa. já agora, diga-me a verdade, à conta da bisbilhotice. O Álvaro também ali tem seus qq e inimigos. Para agora, para dar uma satisfação ao Guimarães e uma trombada no Juiz Barreiros era obra razoável, para o mais, consolidar o Partido Democrático, mantê-lo unido e respeitado, francamente não serve.
V. Exa. terá, decerto, ouvido muito disto, mas no estado em que está a política dos Arcos… ela vê-se muito melhor de fora do que no meio deles. Ali quem não é pela república, fez-se inimigo do Guimarães e fez-se com motivos. Refiro-me ao funcionalismo. O contador, que é cunhado do Alves, o escrivão Lima, o escrivão-notário Barreiros é da primeira categoria. O delegado, o escrivão Rocha Gomes, os notários Albano e Germano fazem o mal que podem ao Guimarães. Junto a isto, na gente que entrou sem condições de moralidade para a república, a do Abade da Grela, e eis os Arcos. Um Juiz Barreiros com a maldade na medula dos ossos é um Juiz de direito incompetente, dizendo ámen com todos, que se deixou ridicularizar no celebre julgamento e que teve a celeridade de uma vez declarar que condenaria o Guimarães, o que decerto sucederia não fosse a habilidade do Dr. Manuel Oliveira, que o zurziu de Lisboa, inquirindo da sua habitual morada e o feitio do então juiz desta comarca Dr. Abel Campos de Carvalho – tudo isto, veja V. Exa., é os Arcos e dos Arcos.
O novo Engenheiro Assunção mandou-me notícias com muita animação.
É com muita consideração

De V. Exa. muito grato

Manuel Joaquim Lourenço

Barca, 22 de Maio de 1914


O papel que Manuel Lourenço se refere não chegou até aos nossos dias, mas poderão ver aqui o tipo de panfletos que circulavam, neste caso é um panfleto escrito por Francisco d' Abreu Coutinho contra Manuel de Oliveira, deputado do Partido Democrático.

Panfleto (formato pdf - 428 Kb)

quinta-feira, julho 07, 2005

Brito Camacho - Uma Fêmea em época de cio?

Meu caro Simas

Não resisto a mandar-lhe uma Luta que ontem li. Havia-me dito você que o Brito Camacho já começava a atirar-se ao Bernardino. Pois não me parece. O que ele deseja é que o deixem em paz com todas as autorizações que o congresso lhe votou.
Por muito curioso lhe sublinho o fim do artigo. E diga-me, depois, se o Brito será um político em nulidades, espécie de fêmea em época de cio e em constante pecado natural de concupiscência arvorado por todos os governos. Pois meu caro Simas, se precisar de macho que a domine, não sei se o Bernardino lhe vai procurar o gosto que melhor o subjuguem … a besta.
Veja o artigo e não tenha dúvidas.

ADRIANO

Pelo teor desta missiva situo-a no final de 1914, quando começou a contestação ao governo de Bernardino Machado. Com "as autorizações que o congresso lhe votou" Adriano Pimenta refere-se ao pacote legislativo votado por causa do ínicio do conflito europeu que concedia quase "carta Branca ao presidente do conselho de ministros. A ausência de data torna quase impossível de saber o teor do artigo de Brito Camacho.